Os 85 mais ricos

Um relatório divulgado pela organização humanitária Oxfam, publicado na comunicação social, conclui que a riqueza concentrada nas mãos das 85 pessoas mais ricas do mundo equivale aos recursos da metade mais pobre da população mundial.

Segundo a organização, quase metade da riqueza mundial está nas mãos de apenas 1% da população. São cerca de 110 mil milhões de euros, um valor que é 65 vezes maior do que o total de recursos de que dispõe a metade mais pobre da população.

Em 2013, 210 pessoas entraram para o “restrito clube dos multimilionários e que é composto por 1426 pessoas, com uma fortuna avaliada em torno dos 5400 milhões de dólares. Na Europa, o património das dez pessoas mais ricas (cerca de 217 mil milhões de euros) é superior ao total das medidas de estímulo à economia aplicadas entre 2008 e 2010 (200 mil milhões de euros), acrescenta a Oxfam, defendendo que este número “dá uma ideia da magnitude da concentração de riqueza a nível mundial”.

Quanto à distribuição de riqueza, os dados do Crédit Suisse concluem que 86% dos recursos do planeta estão concentrados em apenas 10% da população, enquanto a maioria dos 70% mais pobres — que são mais de 3000 milhões de adultos — apenas dispõem de 3% dos recursos. (Fonte: jornal PÚBLICO.)

A seguir ao 25 de Abril, os ricos eram representados de cartola e charuto, com a sua enorme barriga perfurada pela foice ou forquilha dos camponeses. Os operários, de cabelos revoltos, surgiam nos cartazes guiados pela estrela do internacionalismo proletário, que os haveria de guiar até ao farol do socialismo. A distribuição justa dos recursos era a luta fundamental dos povos de todo o mundo e a bandeira da nossa Revolução dos Cravos.

Quarenta anos passados, acabo de descrever o panorama mundial. Em Portugal, os ricos queixam-se da crise, mas todos sabemos como o nosso país é um exemplo de injustiça social: basta abrir a televisão para ver o contraste gritante entre os palácios de alguns e os casebres de tantos outros. O Rendimento Social de Inserção é atribuído a cada vez menos pessoas e quem trabalha no terreno sente como os apoios sociais escasseiam cada vez mais.

Numa reacção à notícia sobre os 85 mais ricos, o multimilionário Kevin O’Leary exclamou: “It’s fantastic!” E acrescentou que esta era a motivação de que todas as pessoas precisavam para melhorar a sua situação. Confrontado pela jornalista com a pobreza extrema de tantas pessoas no mundo, que as tornava incapazes de reagir, O’Leary prosseguiu na defesa de que esta desigualdade social era uma boa notícia.

Os milionários portugueses são menos arrogantes, mas não perdem tempo em sediar as suas empresas no estrangeiro, nem por certo tentam evitar a fuga aos impostos. Quarenta anos depois de Abril, os ricos já não andam de cartola nem os camponeses de foice, mas a injustiça social não pára de aumentar.

Os portugueses aceitam tudo com resignação, mas não deixam de murmurar contra o gasto em assessores, carros de luxo e recepções faustosas. Esquecem-se do essencial: muitos ricos já colocaram os seus lucros bem longe dos olhares desatentos dos pobres de Portugal.

E também não se lembram de exigir à oposição um compromisso definitivo nesta área: a proibição de recorrer a paraísos fiscais, a exigência de salários justos, a imposição de contributos significativos das grandes fortunas para a protecção social de todos os cidadãos.

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