O futuro da família

Neste início do ano, importa reflectir sobre o futuro da família. Na sua edição de Janeiro de 2014, a revista Courrier Internacional dedica algumas páginas ao tema das “novas famílias” e traz-nos revelações interessantes. Nos EUA, calcula-se que dois milhões de crianças vivam com pais homossexuais, dando origem à expressão gayby boom, trocadilho com o anterior babyboom do pós-guerra; e o casamento heterossexual foi precedido quase sempre de um período de coabitação, deixando de ser um acontecimento de vida “fundador” da família. Na Grã-Bretanha, prevê-se o aumento das “tribos de dois”, designação dada a duas famílias monoparentais a viver no mesmo domicílio, e o acréscimo dos “ambulantes modulares”, quadros que vivem sozinhos, em apartamentos com serviços incluídos. Na China, os pais que partiram para trabalhar nas cidades deixaram para trás cerca de 60 milhões de crianças, que ficam, em geral, a cargo dos avós. Essas crianças chegam a estar sem ver os pais três meses, não se sabendo o impacto desse afastamen

Em Portugal, embora a família nuclear “tradicional” permaneça a estrutura familiar predominante, novas organizações familiares emergem em cada novo dia. Há menos casamentos, com o número de consórcios a cair para metade nos últimos 15 anos, a coincidir com um número elevado de divórcios (calcula-se que 70 por dia). Desde 1982 que o nosso país não atinge os 2,1 filhos por mulher, o valor necessário para garantir o crescimento da população e a renovação das gerações. A crise económica parece ser um factor determinante para a baixa da natalidade em Portugal: no último Inquérito à Fecundidade realizado pelo INE, os “custos financeiros” e a “dificuldade em arranjar emprego” são os principais motivos para decidir não aumentar a família, tendo-se atingido o índice de 1,35 filhos por mulher, o quinto valor mais baixo na Europa.

Qual será então o futuro da família? Sem dúvida que o agregado familiar alargado, extenso e “tradicional”, com casamentos duradouros e hierarquias bem definidas, não voltará mais. A diversidade e heterogeneidade dos modelos organizativos familiares será a regra. O que importa, contudo, é assegurar o cuidar, ou seja, a forma como nos relacionaremos com aqueles que nos rodeiam, com especial atenção aos mais vulneráveis, as crianças e os idosos. Na relação de casal, é crucial encontrar um equilíbrio entre as necessidades e os desejos de cada um e o urgente reconhecimento do outro, sem o qual a relação não sobreviverá.

Em Portugal, a crise económica deveria obrigar o Governo a garantir um mínimo de condições para que as famílias pudessem desempenhar o seu papel cuidador. Infelizmente, tudo parece indicar o contrário: mais de 50 mil famílias perderam o Rendimento Social de Inserção (RSI), das quais só 158 pelo facto de terem regressado ao mercado de trabalho. Com tanta gente em dificuldades, são pouco mais de 200 mil os beneficiários do RSI, não fazendo sentido a crítica a esta medida de solidariedade social.

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