O conto do vigário digital

Pega-se no jornal e não se acredita. “E-mail de Loureiro dos Santos usado em tentativa de burla”, avisa a manchete. E na notícia cita-se um mail lancinante descrevendo (em português) aquilo que a vítima teria escrito em inglês, a pedir socorro. Tinha sido roubado, precisava de ajuda, o trivial. O mais extraordinário disto, para lá de o caso ter sido manchete de jornal, é que o visado recebeu “muitos telefonemas” a saber se estava bem, se precisava de ajuda, etc. Ninguém achou estranho que, sendo ele português, enviasse aos seus amigos um e-mail em inglês (e decerto mal escrito) a pedir que o ajudassem. Tão extraordinário quanto a Polícia Judiciária ter dito ao jornal (no caso, o DN), que “situações deste tipo não são raras”.

Não são raras? Pois fiquem sabendo, e certamente saberão, que há milhares. Ou milhões. Eu próprio já recebi um e-mail enviado por “mim”, em inglês, a oferecer-me um empréstimo. A partir daí desconfio de tudo o que diga: tome, abra, registe-se, assine, clique aqui, etc. O engodo varia, entre o absolutamente idiota e o falsamente esperto, mas o fito é sempre o mesmo: aceder a computadores e e-mails privados, fazendo deles o que bem se quiser. Como neste conto do vigário, variante digital do seu antiquíssimo antecessor, há múltiplos exemplos, deixo-vos aqui uma pequena mas elucidativa colectânea dos meses mais recentes. Sim, uns vinham assinados por “pessoas” que conheço, outros por “pessoas” que toda a gente conhece e outros por “instituições” famosas, bancárias e outras. Tudo falso, naturalmente.

Um, trivial, vem de “instituições bancárias”. “Bom Dia Senhor(a) Cliente, Conforme solicitado segue abaixo Fatura para pagamento. Clique aqui para baixar.” Fatal. “Hello Guest Visa Card, Your credit card is suspended, because we’ve noticed a problem on your card. To lift this suspension, Click here and enter the code.” Xeque-mate ao disco rígido. E “verified by Visa”, calculem! Mais: “Segue em anexo a cópia do COMPROVANTE de DEPÓSITO. Confira o Valor Creditado na Conta. Qualquer dúvida entrar em contato conosco!” E depois vinha o pedido para fazer download do tal “comprovante”. Tóxico. “Conforme solicitado segue o anexo da: Nota Fiscal Eletrônica Nf-E n°.9782060.” Qual será o idiota que, sem ter solicitado coisa alguma, vai candidamente despejar no próprio computador este veneno?

Exemplos de fina escrita há milhares. Como este: “Enviei-lhe um documento importante o arquivo é muito grande assim que eu fizer o upload via Google unidade, siga o link CLIQUE AQUI e basta acessar com seu e-mail para visualizar o documento.” Mas há melhor: “Nós contactam-nos para informar-se que acaba de ganhar à tiragem ao destino organizado pela nossa companhia MICROSOFT WINDOWS FOUNDATION. Encontrará sobre o documento em ficheiro juntado das informações detalhadas sobre o lucro. Para entrar em possessão do lucro, quer dirigir um mail de reconhecimento de lucro ao contínuo.” Sic. Ou: “Olá sua herança pagamento doação foi pago fora de o G-20 União Europeia, e ter sucedeu em depositar os seu fundos com união ocidental. Nós ter sido dado o plena responsabilidade no processo de transferência dos seus fundos, e nós ter recebido um atualizar para seu pagamento primeira parcela de US $ 4,500.00 USD que você deve estar recebendo três vezes por semana até a conclusão de seu valor total de  $ 540.000,00. Fale (ocidental união agente) para seu dinheiro transferir número de controle (MTCN) e pegar detalhes”… Épico.

No género “empatia pessoal”, há verdadeiras pérolas. Como esta: “Olá Caro, Como você está fazendo? Eu sei que a minha mensagem vai chegar a você como uma surpresa, mas eu estou escrevendo com a mente clara e trazendo uma amizade que irá beneficiar tanto de us.I sou da República Ruanda pelo nome de senhorita Rebeca, se meu modo de entrar em contato com você no caminho que ofende. Eu sou obrigado a contactá-lo através deste meio, por razões óbvias que você vai entender quando discutimos a minha proposta, eu vou esperar pela sua resposta o mais breve possível.” 
Com que então “não são raras”, cara PJ?

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