Mundo – outras visões da política

O Ocidente tem o mérito de ter desenvolvido o conceito de Democracia. O que pode revelar-se perigosa é a sensação de que este modelo de democracia atingiu a perfeição, o que não é verdade.

O Ocidente tem o mérito de ter desenvolvido o conceito de Democracia. O que pode revelar-se perigosa é a sensação de que este modelo de democracia atingiu a perfeição, o que não é verdade. Existem profundos défices democráticos. Máquinas partidárias assaltam o poder, marginalizando o verdadeiro pilar da democracia – os cidadãos. A democracia inclui o voto mas vai muitíssimo além do singelo poder concedido aos cidadãos, o de, em 30 segundos em cada 4 anos, inscrever uma cruz num papel, antes de serem ignorados por mais 4 anos. No Zimbabwe existem eleições que, genuinamente, elegem Mugabe.

Imaginar que a democracia existe linearmente porque se realizam eleições seria apenas patético, se não fosse também perigoso. Nessa conceptualização, as perversões, a corrupção, o tráfico de influências e a mediocridade encontram terreno fértil. Partidos choram “lágrimas de crocodilo” porque imensos jovens têm que emigrar porque em Portugal lhes falta emprego. Mas é quase criminoso que o país esteja repleto de jovens ligados às máquinas partidárias, que não se preocuparam em estudar e em serem altamente competentes, mas que recebem empregos sumptuosos, com bons salários que não merecem e que são pagos pelos cidadãos, enquanto outros jovens altamente preparados vegetam no desemprego ou emigram dolorosamente, porque vivem num país em que a mediocridade pode ser preferida ao valor. De resto, a generalidade dos melhores está fora da política e é deliberadamente ignorada.

Durante gerações o Ocidente acreditou que a democracia é não só um conceito superior (o que é real) mas também (porque parece óbvio) um sistema que favorece o desenvolvimento económico. O Ocidente olhava um mundo pobre e acreditava que a introdução da democracia permitiria a esses países prosperarem. Com a melhor intenção (embora com alguma arrogância) exportámos sistematicamente um modelo de democracia, o nosso.

Todavia, embaraçosamente, a realidade do mundo foi colocando fundadas dúvidas sobre a tácita relação entre democracia e crescimento económico. Um dos primeiros abalos àquela convicção foi a meteórica ascensão económica de uma nação que, política e culturalmente, possuía um modelo paternalista de dirigismo autoritário – o Japão. Posteriormente, uma outra dinâmica surpreendeu o Ocidente, um conjunto de países e territórios do Sudeste Asiático que, sem regimes democráticos semelhantes ao nosso ou mesmo com sociedades autoritárias, iniciaram um poderoso crescimento económico – os Tigres Asiáticos.

Mais tarde a maioria esmagadora dos países em desenvolvimento iniciou uma poderosa projeção económica. Sem que a generalidade dos cidadãos e políticos europeus disso se aperceba, essa dinâmica está a mudar o mundo e transformará a redistribuição do poder mundial neste novo século. Mas essa pujança económica não apresenta uma decisiva correlação com a democracia. A China é um exemplo que todos conhecem.

Em 2015 o crescimento económico foi de apenas 1,6% na Zona Euro mas foi de 6,6% na Ásia em desenvolvimento e mesmo de 3,4% na África Subsaariana, regiões em que a vivência democrática não é brilhante. Esta tendência permanecerá ao longo das próximas décadas.

A verdade é que, com exceção de zonas de guerra, nesses países se respira predominantemente um ambiente de otimismo e de vibrante esperança num futuro melhor, aquilo que não temos por cá. Falta a muitos ocidentais a compreensão de que, para a maioria dos cidadãos do mundo, interessa mais o progresso das suas condições de vida, a melhoria em cada ano que passa, muitíssimo mais do que prestarem atenção a discussões quase infantis de políticos que falam porque gostam de se ouvir, enquanto são pagos pelo suor dos cidadãos.

Inquiridos os cidadãos sobre se estão felizes com a evolução no seu país, a percentagem dos que responderam estarem satisfeitos foi de 87% na China, 77% no Vietnam e 76% na Malásia, de 59% na Alemanha mas de apenas 33% nos Estados Unidos, 22% em França e 9% em Itália. A percentagem dos cidadãos que consideram Boa a situação económica do seu país é de 89% na China, 40% nos Estados Unidos e 12% em França. No Vietname 94% dos cidadãos consideram que a geração dos seus filhos será mais rica que a atual. Essa percentagem é de 85% na China e, em média, é de 58% na Ásia. Pelo contrário, na Europa 65% dos pais consideram que os seus filhos serão mais pobres que eles. É um pavor que nunca tinha sucedido, enquanto temos uma classe política narcisista que não está preparada e que destrói o presente e o futuro. Será surpreendente que para a maioria do mundo o nosso “modelo” imperfeito de democracia não entusiasme excessivamente?

Quase todos desejam uma genuína democracia responsável, eficiente e que respeite os cidadãos em lugar de os humilhar e de deles se servir. Mas a democracia não induz necessariamente uma economia mais pujante e, infelizmente, o que temos está longe de ser uma democracia plena, centrada nos cidadãos. O futuro dos nossos filhos e netos está a ser destruído enquanto políticos se extasiam com ridículas questiúnculas.

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