Palavras, expressões e algumas irritações: icebergue

O dicionário dá um exemplo que extravasa a ciência: “Isto é a ponta do icebergue: a fraude é muito maior.” Mas hoje não queremos falar da Galp, nem da Altice ou da PT, nem do SIRESP, nem das PPP, nem da banca, nem… nem…

Explica uma enciclopédia geográfica (1989) que um “icebergue” é uma “grande massa de gelo flutuante que se separou de um glaciar ou barreira de gelo”, acrescenta que se desloca “sob a influência de correntes e ventos e pode tornar-se perigoso para a navegação”. Remete ainda para o avistamento de um grande icebergue, no oceano Pacífico, em 1959, com 335 km de comprimento e 97 km de largura.

Nesta semana, um “icebergue gigante desprendeu-se na Antárctida”. Descrição divulgada no PÚBLICO: “São quase seis mil quilómetros quadrados de gelo que estão à deriva, depois de se terem desprendido da plataforma Larsen C, na Antárctida ocidental. O desprendimento de uma área gelada superior à do território de países como o Brunei, Cabo Verde ou o Luxemburgo foi confirmado nesta quarta-feira por cientistas, através de imagens recolhidas por satélite.”

Com responsabilidades “repartidas” entre causas naturais (dinâmica das plataformas dos glaciares) e acção humana (alterações climáticas — desde 1950, a temperatura média anual do ar subiu cerca de três graus Celsius na Península Antárctica), o resultado inevitável será a subida do nível do mar.

Do norueguês ijsberg; do alemão Eisberg e do inglês iceberg, o significado original traduz-se por “montanha de gelo”. E muito usada é a expressão “ponta do icebergue”: a “parte do gelo visível, do bloco de gelo total”, 10%. Em sentido figurado, associa-se à “parte que está à vista ou que é conhecida de problema complicado ou situação difícil”.

O dicionário dá um exemplo que extravasa a ciência e a geografia: “Isto é a ponta do icebergue: a fraude é muito maior.” Mas hoje não queremos falar da Galp, nem da Altice ou da PT, nem de cativações, nem do SIRESP, nem das PPP, nem da banca, nem… nem… 

A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

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