Homens também à beira de um ataque de nervos

Passadas duas semanas da contenda escaramuça entre Jessica Athayde e umas pessoas da Internet que disseram que ela estava gorda, já estamos capazes de analisar racional e friamente os efeitos da polémica e concluir que presenciámos o momento charneira na luta pela igualdade de género em Portugal. Alvíssaras! Atingiu-se enfim a paridade entre os sexos. Até há 15 dias, dizia-se que as mulheres ficavam desestabilizadas emocionalmente com qualquer referência ao seu peso. Mas agora percebe-se, nas reacções histéricas nas redes sociais, que também os homens têm chiliques com qualquer referência ao peso de uma mulher. Há equidade no descontrolo, há crises de nervos irmãmente distribuídas, há fanicos partilhados.

Li vários comentários e não consegui distinguir os que tinham sido escritos por mulheres indignadas daqueles que tinham sido escritos por homens indignados. Claro que a igualdade nunca é completa: o habitual espírito de competição masculino fez com que os homens quisessem suplantar as mulheres no nível de histerismo, tendo ficado à frente no ranking de lamúrias.

A partir de agora, nada será como dantes, quando um homem podia encolher os ombros e desvalorizar com um “os cães ladram e a caravana passa”. Isso já não é possível. Agora há que ir ao Twitter dos cães e comentar: “Então, pá? Isso é assim? Ladrar à caravana é desagradável. A caravana é amiga, esses latidos são foleiros. Estou revoltado.”

Mas o importante é que, através de uma campanha espontânea que atravessou todos os meios de comunicação social do país, mobilizou as redes sociais e pôs Portugal a falar dum comentário sobre a forma física de uma mulher, se provou cabalmente que a forma física das mulheres não é relevante.

Entretanto, ao mesmo tempo que facultam aos portugueses as ferramentas necessárias para avançar a causa do feminismo, a Apple e o Facebook também fazem o que podem nas suas companhias, oferecendo-se para congelar os óvulos às trabalhadoras que se queiram concentrar na carreira e deixar a gravidez para mais tarde. Mas é pouco. Se querem que as funcionárias se possam focar no trabalho, não chega congelarem-lhe os óvulos, têm também de lhes congelar as crianças que já existem. Pelo menos até aos 25 anos. Se a minha filha estivesse arrumada na arca congeladora, eu produzia muito mais. Havia um trade off, claro: por um lado, teria mais tempo para dedicar a esta crónica que já foi interrompida 17 vezes, por outro, teria menos espaço para guardar cerveja fresquinha.

É bom viver numa época em que a igualdade é um dado de tal forma adquirido que uma mulher pode mudar o nome quando se casa, sem que isso seja considerado uma cedência à opressão patriarcal. Há uns anos, quando me casei, era impossível. A minha mulher não aceitou mudar de nome por mim. Eu só queria que ela se passasse a chamar Elle McPherson, para poder dizer aos meus amigos: “Sabias que ando a dormir com a Elle McPherson?” Mas a sua insegurança feminista não permitiu. Na altura fiquei desolado, mas agora já não me importo. Até porque a Elle McPherson começa a ficar um bocadinho badocha. E já tem 50 anos, idade a partir da qual, segundo o Supremo Tribunal Administrativo, as mulheres perdem interesse no sexo.     

Sugerir correcção
Ler 1 comentários