Homens também à beira de um ataque de nervos
Li vários comentários e não consegui distinguir os que tinham sido escritos por mulheres indignadas daqueles que tinham sido escritos por homens indignados. Claro que a igualdade nunca é completa: o habitual espírito de competição masculino fez com que os homens quisessem suplantar as mulheres no nível de histerismo, tendo ficado à frente no ranking de lamúrias.
A partir de agora, nada será como dantes, quando um homem podia encolher os ombros e desvalorizar com um “os cães ladram e a caravana passa”. Isso já não é possível. Agora há que ir ao Twitter dos cães e comentar: “Então, pá? Isso é assim? Ladrar à caravana é desagradável. A caravana é amiga, esses latidos são foleiros. Estou revoltado.”
Mas o importante é que, através de uma campanha espontânea que atravessou todos os meios de comunicação social do país, mobilizou as redes sociais e pôs Portugal a falar dum comentário sobre a forma física de uma mulher, se provou cabalmente que a forma física das mulheres não é relevante.
Entretanto, ao mesmo tempo que facultam aos portugueses as ferramentas necessárias para avançar a causa do feminismo, a Apple e o Facebook também fazem o que podem nas suas companhias, oferecendo-se para congelar os óvulos às trabalhadoras que se queiram concentrar na carreira e deixar a gravidez para mais tarde. Mas é pouco. Se querem que as funcionárias se possam focar no trabalho, não chega congelarem-lhe os óvulos, têm também de lhes congelar as crianças que já existem. Pelo menos até aos 25 anos. Se a minha filha estivesse arrumada na arca congeladora, eu produzia muito mais. Havia um trade off, claro: por um lado, teria mais tempo para dedicar a esta crónica que já foi interrompida 17 vezes, por outro, teria menos espaço para guardar cerveja fresquinha.
É bom viver numa época em que a igualdade é um dado de tal forma adquirido que uma mulher pode mudar o nome quando se casa, sem que isso seja considerado uma cedência à opressão patriarcal. Há uns anos, quando me casei, era impossível. A minha mulher não aceitou mudar de nome por mim. Eu só queria que ela se passasse a chamar Elle McPherson, para poder dizer aos meus amigos: “Sabias que ando a dormir com a Elle McPherson?” Mas a sua insegurança feminista não permitiu. Na altura fiquei desolado, mas agora já não me importo. Até porque a Elle McPherson começa a ficar um bocadinho badocha. E já tem 50 anos, idade a partir da qual, segundo o Supremo Tribunal Administrativo, as mulheres perdem interesse no sexo.