Fátima, Futebol e Fado-se

Golo de Portugal! Até que enfim! Vamos a Fátima, vamos a Fátima pelos dois, Salvador!

Quem leva a bola é António Calvário, o avançado com pinta de galã que está na lista do Benfica para a próxima época. Calvário segura a bola, rodopia sobre ela, faz um compasso de espera e passa para Simone de Oliveira! Que passe, meus amigos, uma autêntica oração neste sol de Inverno que foi a desmarcação de Simone pelo corredor esquerdo.

Mas Simone tem o caminho tapado, hesita entre ele e ela e acaba por se ver obrigada a atrasar para Madalena Iglesias. Está frio nesta noite de sábado e a selecção nacional ainda não acordou para o jogo. Aí vai Iglesias, parece que agora o vento mudou, descobre Eduardo Nascimento à entrada da área, Nascimento de costas para os defesas, tenta virar-se, mas fica sem a bola! Não há sol de Inverno que aguente, meus amigos.

Esta equipa precisa mesmo é que chegue o Verão, é o que é. Vai, Carlos Mendes, pressiona! Mendes tira a bola àquele médio raçudo que só atrapalha, aí vai Mendes, tira um, tira dois, tira três e devolve a Simone de Oliveira lá na esquerda, é agora que isto vai, é a desfolhada portuguesa! Vai Simone, Vai Simone, Simone toca para o lado para Sérgio Borges. Mas onde é que tu vais, ó Borges? Onde vais, rio que eu canto? Valha-me Deus, Borges, valha-me Deus! E valha-nos a nossa menina do alto da serra, vai Tonicha, leva a bola para fazermos a festa da vida! Tonicha procura outra vez Carlos Mendes, que recebe com o peito e mata na relva. É um artista, este Mendes! Passa a bola por baixo das pernas daquele brutamontes e toca para Fernando Tordo, que tourada, meus amigos, que tourada! É agora que isto vai! Mendes, Tordo e Paulo de Carvalho, o trio maravilha a fazer estragos como sempre!

Olha, que coisa mais linda, mais cheia de graça, esta canção não é daqui e não rima com e depois do adeus, o que faço aqui? O que importa é que Portugal está a pressionar cada vez mais, mas já é quase madrugada neste relvado flor de verde pinho e nada, e nada.

Duarte Mendes acaba de entrar em substituição de Eduardo Nascimento e deixa para Carlos do Carmo, parecem bandos de pardais à solta, os putos, os putos. Temos Portugal no coração, meus amigos! Vai, Tozé Brito, vai Tozé Brito, dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe! E deu! Deu para Manuela Bravo, com ela a bola sobe, sobe, sobe, balão sobe, e vê José Cid desmarcado na direita, deixou para trás três defesas, chama Carlos Paião, que imita na perfeição, parace karaoke mas é playback. Bem bom este Paião, um grande, grande amor, um doce!

Mas a verdade é que Portugal não consegue entrar na grande área, às vezes é samba, às vezes esta balada que te dou. Vamos ver o que faz Armando Gama, olha a Maria Guinot, ó Armando, olha a Maria Guinot isolada! Pensa em mim que eu penso em ti, ó Armando! Às vezes é no meio do silêncio que descobres o amor em teu olhar, uma pedra ou um grito, uma bola a saltar! Mas não vale a pena, Armando Gama é lento e deixa-se antecipar.

É o desespero de Adelaide Ferreira, que gritava e agitava os braços no ar a meio do meio-campo adversário. É preciso fazer mais pressão aí, apertem com eles! Vai, Simone, Vai, Simone. Agora sim, dá para Paulo de Carvalho, devolve a Carlos Paião, Fernando Tordo cruza, Salvador está sozinho na pequena área, vai Salvador, salta Salvador, é agora! É agora! E é golo! Golo de Portugal! Até que enfim! Vamos a Fátima, vamos a Fátima pelos dois, Salvador! E o árbitro apita para o final da partida, com uma visita do Papa a Fátima, uma vitória de Portugal no Festival Eurovisão da Canção e o tetra do Benfica. Os três F voltaram. Ainda bem que houve festa, e ainda bem que não voltaram para ficar.

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