Diplomacia digital e “geração Europa”

Talvez a diplomacia digital seja a única capaz de juntar o que se encontra separado. E pode ser que a proximidade digital seja mais útil que a burocracia consular.

A mais recente geração de emigrantes portugueses relaciona-se com os emigrantes mais velhos e com o país de uma forma bem diferente da das gerações anteriores. Esta geração não se encontra nas redes da saudade, nas associações de bairro encimadas pela bandeira das quinas, nem nas redes formais da vida consular. Nascida e integrada nos processos de globalização, ela não sente necessidade nem de pertencer à comunidade emigrante que a antecedeu nem à comunidade da cidade ou do país onde reside. Neste caso, não estamos perante uma comunidade emigrante, como nos referíamos a um determinado grupo de portugueses radicados num país estrangeiro, mas sim perante uma geração de jovens que se encara a si mesma, antes de mais, como europeia, para quem viajar e trabalhar fora de Portugal é algo tão natural como não enviar remessas financeiras para o país onde nasceu.

As condições em que a “geração Europa” emigrou, as qualificações que possui e a integração de Portugal na Europa não são propriamente as mesmas das das gerações precedentes. Olhando a amostra do caso francês, jovens entre os 20 e os 35 anos, que serviu de base ao estudo Novos Emigrantes em França, do sociólogo João Teixeira Lopes, elas encontram-se mais nas redes sociais do que nas redes consulares. E a Secretaria de Estado das Comunidades, que foi quem encomendou o estudo, sabe bem disso.

As redes consulares são, geralmente, objecto de críticas, de queixas relacionadas com deficiências de funcionamento, atrasos e tempos de espera longos ou falta de organização, como acontece no caso do Consulado de Londres, até aqui destino preferencial da nova e jovem diáspora portuguesa. Daí que a aplicação Registo Viajante, criada pela Secretaria de Estado das Comunidades para smartphones, que permite manter o contacto com o Gabinete de Emergência Consular, seja uma resposta à desadequação entre as características desta emigração e dos serviços prestados pelo consulado. A aplicação, que pode ser usada por quem viaja ou por quem reside no exterior, mesmo que não exista um registo consular, pode ser activada em casos de catástrofe, acidentes, atentados, etc. Trata-se, aparentemente, de um passo na direcção de uma diplomacia digital, talvez a única capaz de juntar o que se encontra separado. Pode ser que a proximidade digital seja mais útil do que a burocracia consular.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários