Cartas dos Leitores

Quero trabalhar, ensinar e, talvez, educar

Classifico a ideia, se é que a percebi, centrada no texto de opinião de Nuno Pacheco, no Público da 6ª feira, 15/4. "Entregues aos bichos - é nisto que somos bons: em leis". Tal e qual; sim, como professor, estou inundado de leis que afundam as ideias. A sensação é de sufoco absoluto. Quero trabalhar, ensinar e, talvez, educar. Contudo, primeiro, tenho de saltar as barreiras da legislação. Não me  preparo para as olimpíadas. Essas leis, de acordo com a interpretação que delas fazem, são despejadas por Mail, placards e ordens de serviço. Pois é; tens de agir em conformidade e de acordo com os normativos legais. Para além disso, tens a obrigação e não ultrapassar a data limite. A seguir, se me resta algum fôlego (depois de quase tantas décadas de idade como de trabalho que fôlego me restará ?), respiro, respiro, agora, mais fundo; movimento a cabeça em direções desordenadas e inspiro-me. Sim, sirvo-me de uma hipotética imaginação/inovação que alio à criatividade e, também, da obrigação do bom senso para, juntando tudo à pouca autonomia que me resta na sala de aula, apresentar um trabalho que julgo, ainda, positivo. Sem dúvida, NP: "continuaremos entregues aos bichos; aos bichos humanos, que em perversidade superam os outros".

Gens Ramos, Porto

 

Condecorações

Se não estou em erro, o atual Presidente da República manifestou recentemente a intenção de reduzir o número de condecorações do "Dia de Portugal e das Comunidades". Se é verdade, é uma decisão louvável. Desde o 25 de Abril que se têm vindo a condecorar inúmeras pessoas, que à posterior se veio a verificar não serem dignas de tal. Dou como exemplo os condenados  do caso "Casa Pia", dos inúmeros empresários que mais tarde se veio a verificar que afinal foram péssimos gestores e, por vezes, corruptos, como nos casos da PT, BES e outros, ou ainda de dirigentes políticos, que se veio a verificar não serem dignos de tal louvor. Outro aspeto que se tem visto, a generalidade dos condecorados são pessoas que se tornaram notórios pela sua condição social e não por terem contribuído de alguma forma para engrandecer Portugal. Penso que serão merecedores de condecorações os portugueses cujos feitos, apesar de não serem notórios publicamente, sejam vistos pelos que lhes são próximos relevantes na comunidade em que se inserem ou no país. Há seguramente inúmeros portugueses que no seu dia a dia contribuem para a melhoria das condições de vida de muitos dos seus concidadãos, sem estarem preocupados com quaisquer benefícios. Há, neste caso inúmeros dirigentes sindicais, desportivos e associativos que, voluntariamente, ao longo da sua vida, deram tudo o que podiam aos outros sem nada receber em troca. Há também os criadores culturais, inventores, cientistas, etc., que pelo relevo público que têm as suas atividades ou descobertas, deverão ser dignos de condecorações. Há os atos heroicos praticados pelos militares, militarizados e de segurança que devem ser dignos de uma condecoração. Em conclusão, as condecorações devem servir para os portugueses que, pelos seus feitos, se tenham realmente destacado no bem comum. Entregar condecorações a alguém que à posteriori se conclua que não foram dignos delas, deixam tão mal visto quem as recebe como quem as entrega, ou não será?

Mário Pires Miguel, Reboleira

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