Cartas ao director

Que estranha forma de fazer política

Só uma mente muito retorcida pelo fogo pode pensar que existe alguma coisa a esconder num gigantesco pinhal calcinado, alguém que invoca suicídios, que berra por "toda a verdade" pois "há muito por esclarecer no incêndio de Pedrógão", inclusive o número de mortos. Não se aflijam, os cidadãos ficaram elucidados com a qualidade do combate político em Portugal, fuligem que se agarra às paredes de partidos desacreditados, sem ideias, e que desrespeitam a memória de Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. "Que estranha forma de vida", cantava Amália, "que estranha forma de fazer política", digo eu.

Emanuel Caetano, Ermesinde

 

O ultimato

Hugo Soares foi eleito há dias líder da bancada parlamentar do PSD, mas mal exerceu funções porque o Parlamento entrou de férias.

Quis no entanto mostrar os seus dotes políticos dando um ultimato ao Governo para num prazo de vinte e quatro horas dizer o nome de todas as vítimas de Pedrogão Grande. Esqueceu-se de dizer o que faria se o prazo não fosse cumprido! Mas o mais grave é que por muito ignorante que Hugo Soares possa ser, não pode deixar de saber que o secretismo sobre o nome das vítimas de Pedrógão Grande foi decretado pela Procuradoria Geral da República e não pelo Governo, e que mesmo que este eventualmente conheça a lista não a pode divulgar.

No dia seguinte, pouco mais de 24 horas depois, a PGR editava a lista dos nomes das 64 vítimas. Hugo Soares congratulou-se com o facto mas criticou o Governo por não ser ele a fazê-lo. Foi portanto uma manobra para tentar criar antipatias ao Governo por parte da população que ignora a PGR (e que é muita). Foi uma manobra torpe (a utilizar abusivamente as famílias de vitimas) que mostra que o PSD está disposto a tudo para atacar o Governo, mesmo quando não haja qualquer razão.

Vitor Macieira, Lisboa

 

Excedentes alemães

A Alemanha continua a registar excedentes da balança corrente e de capitais acima dos 8% do PIB, o que está a causar enormes desequilíbrios dentro e fora da zona euro, assim como um défice da procura global. À semelhança daquilo que Keynes defendia na década de 40, a UE deveria transferir o ónus do ajustamento para os países credores, de forma a transformar os efeitos contraccionistas, em pressões expansionistas do comércio intra comunitário. O próprio plano Marshall refletiu um esforço, por parte do maior excedentário da época, dos EUA em apoiar as nações europeias, com elevados défices da balança corrente e de capitais. Apesar das transferências de capital chegarem aos 2% do PIB dos EUA, o rendimento bruto dos cidadãos americanos continua a progredir até aos anos 50.

Neste sentido, caberia ao BCE obrigar a Alemanha a aplicar a componente excessiva do seu excedente, em produtos importados de outros países membros, investir em novos projetos no estrangeiro ou efetuar transferências unilaterais de ajuda. Um mecanismo desta natureza evitaria as pressões deflacionárias promoveria um maior equilíbrio, potenciaria o tecido produtivo das economias deprimidas e por essa via a redução do desemprego.

João António do Poço Ramos, Póvoa de Varzim

 

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