Cartas ao director

Tristes tempos

Não me recordo de vivermos tempos sérios no que diz respeito à práctica e ao discurso de quem nos governa, mas o tempo actual é diferente e o facciosismo acéfalo alastrou. Para muitos, concordar ou discordar, dar importância ou ignorar um problema depende apenas da cor do mesmo. À falta de argumentos ou à preguiça para os procurar, cola-se uma etiqueta e “está tudo dito”. Ou é coisa da direita estúpida, ou da esquerda arrogante.

O PS actual tem muita responsabilidade nisto. Se por um lado excita o pessoal com a bandeira da “esquerda”, do “outro caminho”, enfraquecendo potenciais “Podemos” e “Syrizas”, por outro lado, é de uma irresponsabilidade enorme.

Os tempos de má memória que vivemos entre 2011 e 2015 foram consequência de uma longa má governação, mas, por acaso, até era este PS quem estava ao leme quando afundámos. No período da troika, o fundamental da governação teria sido igual, qualquer que fosse o partido no poder. A mensagem actual de que a troika foi uma opção dos “pafiosos” e que com o PS teria sido diferente, é perigosamente muito desonesta.

Acreditei que o susto e o choque sofridos pudessem ter tido um efeito profilático e nos tornássemos mais sérios e mais exigentes. Infelizmente, não. Mente-se, insulta-se e reescreve-se a história mais do que nunca. “A liberdade consiste, antes de mais, em não mentir. Onde a mentira prolifera a tirania anuncia-se ou perpetua-se.” Albert Camus.

Receio estarmos efectivamente a caminho de uma espécie de tirania. Como quem nos conduz são os donos da única fábrica habilitada a poder produzir bandeiras dizendo “liberdade”, o caminho só pode estar certo e nem se admitem discussões.

Carlos J F Sampaio, Esposende

 

A guerra dos números

Sempre que é preciso serenidade para pensar retrospectivamente, avaliar, olhar de frente para o futuro sem tibiezas ou perturbadores pesos de consciência, eis que surge novo foco ou ressurgimento.

Só por si, gerir um país complexo ainda a viver do passado (ou no passado?) já é tarefa medonha, fazê-lo em constante sobressalto sem um elenco governativo sólido e competente é tarefa mais própria para sapadores. No meio deste caos sem solução à vista mais próximo de uma cena do Indiana Jones do que um governo europeu, a comunicação social faz aquilo que é suposto fazer, deita lenha pra fogueira.

Tudo entrecortado pelo aproveitamento político dos culpados, dos não culpados e até dos que ainda não são culpados.

Quanta vontade ainda reprimida terá o nosso timoneiro-mór de intervir?

É que com tamanha confusão e descrédito não chega falar na governação de "sucesso", é preciso reconhecer os erros e apontar metas credíveis para o futuro, porque usar só o "saco" das cativações  para saloiamente mostrar que há dinheiro, é uma forma primária de apontar um futuro em continuidade.

Rui Figueiredo Jacinto, Lisboa

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