Cartas ao director

Do Simplex+ ao Powerex

Para melhor fundamentar estas notas, queria invocar o Simplex+2017 e, confesso, nada me ocorreu de imediato. Avivada a memória pela Internet, foi fácil perceber porquê: embora com uma boa apresentação e uma retórica condicente, poucas daquelas medidas me parecem atacar os problemas de fundo, antes aparentam estar focadas em criar mecanismos “por cima” e “apesar da” burocracia reinante. Isto vem a propósito do triste espectáculo que me é proporcionado todas as manhãs pelas filas que se formam antes das 9 horas à porta dos serviços de finanças, dos registos e da segurança social (não passo por nenhum centro de emprego ou de saúde na minha viagem pendular para o escritório). Existirão mil explicações, mas os factos são indesmentíveis e para mim significam que os Simplexes não estão a chegar lá. Ou porque as obrigações ainda são demasiado complexas ou desadequadas a um mundo cada vez mais digital, obrigando a excessivas interações presenciais ou gerando demasiadas questões, ou porque ainda é o cidadão que faz de “paquete” dos serviços, transportando informação que o Estado já possui, ou porque os canais alternativos e a gestão dos contactos continua a não ter sucesso, entre outras possibilidades, a verdade é que, ou a nossa ideia de simplificar a vida dos cidadãos é dar um banquinho para que a espera na fila seja mais confortável, ou então ainda há muito para fazer. E se falarmos nos tribunais, então o caso é ainda mais sério, já que aquilo que as empresas e os cidadãos têm de passar para dirimir os seus conflitos é um calvário que nem o fogo-de-artifício do mediático mas inconsequente Tribunal de Sintra consegue disfarçar.

Os créditos passados da  ministra da Modernização Administrativa fazem-me ter fé nas suas boas intenções, de que aquilo que ambiciona é muito mais do que coleccionar “certos” numa lista de medidas – interessantes, com valor, mas demasiadas vezes não estruturantes, ainda direcionadas à “low hanging fruit”. O que eu gostaria era de ter um “Powerex”, em que a ministra chamasse a si a resolução frontal dos problemas estruturais, com a devida delegação de poderes do primeiro-ministro para ter uma efectiva ascendência sobre os demais ministérios no “rebentamento” das tradições, das mentalidades e dos interesses que ainda minam uma verdadeira modernização do Estado – não só na aparência, mas sim nos normativos por que se rege e no respeito que demonstra pelos cidadãos.

Luís Rafael Nunes, Oeiras

 

Liberdades

Na sua crónica, "Deixem as pessoas dizer palermices", no PÚBLICO, João Miguel Tavares, foca o médico Gentil Martins e a sua frase duma entrevista ao Expresso: "a homossexualidade é uma anomalia". Sacrilégio!  Numa época de liberdade de expressão, uma frase destas é merecedora de holocausto! Aparecem logo os Pitigrilli horrorizados, os intelectuais, progressistas, políticos de vários quadrantes, defensores da eutanásia e dos casamentos homossexuais, a crucificarem Gentil Martins. Aqueles que se alcantilam de proprietários da verdade única, não aceitam que outros tenham opiniões diferentes deles próprios, por muito intelectuais que sejam. É a classe dos convencidos, escondidos em verdades populistas, mas tão censores como os mais críticos da liberdade de expressão.

Duarte dias da silva, Lisboa

 

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