Cartas ao director

Os políticos e a ética

Há transformações importantes no mundo da política, resultantes de as pessoas andarem hoje, em geral, mais esclarecidas, interrogando-se, sem tabus, sobre o porquê das coisas, sobre as mentiras dos políticos, com suas promessas interesseiras, depois não cumpridas. O cidadão comum acaba sentindo na pele o efeito desses incumprimentos e não perdoa. Vive-se realmente uma situação nova: não só o maior esclarecimento das pessoas, mas aliado à ainda recente consciência dos seus direitos.

Toda esta situação nova, posta em prática no Ocidente desde meados do século passado, foi levando os políticos a respeitarem mais a vasta massa da população trabalhadora, dando-lhe condições de certo bem-estar e de segurança na adversidade e na velhice. E os povos evoluídos foram consagrando os partidos que honraram as suas promessas.

Depois da corrente crise, de que os mais ricos quiseram beneficiar, explorando as camadas “inferiores” e, para cúmulo, culpabilizando-as, tudo mudou: empresários, banqueiros e até políticos procuraram enriquecer ainda mais, mesmo com recurso a ilegalidades, fraude, corrupção. E foram as vastas camadas da população que tiveram de pagar os erros e crimes desses gananciosos, suportando uma austeridade asfixiante, mortal para numerosos e, sobretudo, injusta. Os resultados vão aparecendo: julgamentos intermináveis, anos de cadeia (algo tímidos), políticos e partidos caindo estrondosamente... Cá e lá fora.

António Catita, Lisboa

Os EUA, ver além da fumaça

David Slatter, membro do prestigiado Hudson Institute and John Hopkins University, acaba de publicar no WSJ um artigo a que chama (tradução livre) “Da Rússia com o caos”. Nele se defende que a Rússia e seus alegados hackers interferiram de facto na campanha presidencial. Não para apoiar Trump ou sequer Clinton. Mas para que os apoiantes de ambos se envolvessem numa guerra fratricida de acusações recíprocas, que determinaram o caos da actual administração americana. Como em qualquer crime comum, a primeira pergunta que um investigador sério deve fazer é a quem aproveitou o mesmo. No caso vertente, a resposta é óbvia. A Rússia, a debater-se actualmente com uma crise económica séria, resultado de uma política de exploração dos crudes implementada pelos EUA, esperneia para todo o lado, para conseguir sobreviver. E a sua sobrevivência só pode passar pelo enfraquecimento do seu principal adversário político e económico no mundo, os EUA, que têm em curso uma série gravosa de sanções contra instituições e dirigentes do Kremlin. O “dossiê Trump” sobre alegadas e não confirmadas actividades sexuais de Trump num hotel russo há uns 20 anos é um clássico de desinformação. Mas ocupou a agenda política de Washington durante muitas semanas e desacreditou o Presidente, como os seus inimigos russos pretendiam. E ainda hoje o Congresso perde tempo a tirar vantagens políticas para o Partido Democrata ou para republicanos desavindos, em vez de no terreno as agências de segurança desactivarem e obstarem a mais ataques de hackers, venham da Rússia ou do Daesh.

Manuel Martins, Alandroal

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