Cartas ao director

O rei vai nu?

A agência de rating canadiana (DBRS), que tem sido a "via verde" para o BCE continuar a comprar dívida pública de Portugal, acaba de fazer um despacho sobre a saída do PDE, que convém ler com atenção. Eu aqui me penitencio por não ter acreditado que a actual "situação", que muitos designam por "geringonça", pudesse ter sido viável. Mas funcionou, sem problemas de maior, apesar deste governo ter sido ainda mais rigoroso que o anterior com as metas do défice público. Muitos sapos o PCP-BE devem ter tido de engolir até agora, mas como é que a partir de agora poderão aceitar as reformas estruturais reclamadas pela DBRS? Isso seria contranatura, contra os desígnios e programas básicos daqueles partidos. Eles só estão interessados em duas coisas. Acabar com os ricos, sejam particulares ou empresas, e aumentar a fiscalidade de todos os que ganhem mais de 1500 euros por mês. Como é que se poderá introduzir mais flexibilidade na economia e leis laborais com conceitos destes? A produtividade só poderá aumentar a sério com mais novas tecnologias na produção e já se sabe que isso só diminuirá o emprego. Só a longo prazo o emprego poderá depois crescer à medida que o investimento fizer também crescer a economia. Por isso a citada agência diz que a saída do PDE é apenas simbólica. A austeridade deve continuar, para eliminar o défice e permitir a diminuição da dívida. E deve atrair-se mais investimento. Mas como, pergunto eu, com dois partidos do governo que são contra a iniciativa privada significativa? Bem andou o PR e alguns economistas isentos, ao pedirem para não abandeirarmos em arco, como os apoiantes da situação estão fazendo.

Manuel Martins, Cascais

 

A diferença entre 2017
e 2007

No primeiro trimestre, a economia portuguesa cresceu 2,8%, o que se traduz no melhor resultado, desde 2007. Constatado este facto, inúmeros economistas da nossa praça vieram a público, expressar as suas reservas em relação à evolução da economia, recordando o enorme abrandamento do produto registado no ano de 2008. Convém igualmente relembrar a doutas personalidades, que, em 2007, Portugal terminou o ano com um défice da balança corrente e de capitais acima dos 6% do PIB, o que significa que o crescimento esteve sobretudo associado ao consumo, assente no crédito externo. Pelo contrário, os dados actuais indicam um excedente desta mesma balança de cerca de 1% do PIB, alavancado pelas exportações e investimento. Além disso, a Espanha, destino da maior fatia das nossas exportações registou um crescimento na casa dos 3%, o que constitui uma excelente notícia e melhora as previsões para o final do ano. Como é óbvio, toda e qualquer pequena economia aberta ao exterior, encontra-se exposta a fatores exógenos/externos, tornando o potencial de crescimento da economia dependente de questões como o "Brexit", BCE, "Trump", entre outros. Porém, parece-me abusivo associar o crescimento económico actual ao de 2007, uma vez que os meios para os alcançar foram distintos.

João António do Poço Ramos, Póvoa de Varzim

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