Cartas ao director

20 cm de altura

Apesar do meu apoio habitual aos escritos de Pacheco Pereira no PÚBLICO, hoje [ontem] senti-me, eu e provavelmente uma maioria de portugueses, algo injustamente menorizados. É verdade que a seguir ao 25 de Abril caímos numa euforia algo esquizóide, justificada pela prolongada ditadura e consequente isolamento que tinham constituído, durante décadas, o nosso caldo de cultura e que obviamente nem Paris nem a "joie de vivre" de François Maspero, adicionados a outros inexpressivos cosmopolitismos (que apenas uma minoria frequentava), poderiam colmatar. Seguiram-se anos de governações incompetentes, em maior ou menor grau, e o pouco democrático "mergulho na Europa" que, sem a inerente e necessária preparação, conduziu aos "resgates e troikas" que nos sufocaram. Assim, nada há de estranho na grande alegria que sentimos com a vitória de Salvador na Eurovisão, tanto mais que vivemos uma inédita experiência governativa, que tem sido, ela própria, fonte de inegável e inesperada satisfação. Temos, sim senhor, direito aos mais 20 cm que Marcelo nos atribuiu.

Ana Maria Mota, Porto

Descolonização e racismo à portuguesa

Li o interessante artigo de António Tomás, inserido no PÚBLICO de 20 de Maio, com o título acima. Não posso estar mais de acordo com o seu texto, onde refere, e bem, que o nosso PR, na sua visita a Gorée, não se lembrou de melhor comentário (paternalista e bonzinho) do que "Portugal reconheceu a injustiça da escravatura em 1761, em reconhecimento pela dignidade do homem". Pois este tema, a escravatura, pela sua complexidade, mereceria um discurso mais profundo, realçando todos os intervenientes nesse sórdido comércio, a começar pelos próprios africanos (vendedores) e terminando nos abastados compradores do Novo Mundo (…).

Sobre a nula representação do negro no discurso histórico português, é um facto; tendo terminado o nosso império colonial em 1974, até então, formalmente, as populações das distintas "províncias ultramarinas" eram portuguesas e, obviamente, os seus heróis e vilões também. Onde se mencionam na nossa história (a do ensino oficial e democrático) a Rainha Ginga, o Régulo Gungunhana, o Dr. Mondlane, o Eng.º Amilcar Cabral, Samora Machel ou o Dr. Agostinho Neto? (…)

Ezequiel Neves, Lisboa

Manuais e mochilas

Há bastante informação sobre a não lisura como têm sido editados os manuais escolares. Aquela que parece prevalecer é que é um bom comércio e “alguém” ganha muito com este estado de coisas. (…) Outro problema dos nossos estudantes é o peso das mochilas onde diariamente têm de transportar os seus manuais. Há mais de uma dúzia de anos foi feito um apelo junto do Ministério de Educação que terá obtido cerca de 50 mil assinaturas de apoio para que este assunto fosse estudado e resolvido. (…) Não seria altura de o ministério, aproveitando esta acalmia que se vive no Governo e nas suas ligações aos partidos que o apoiam, analisar o muito que já está estudado e decidir?

Maria Clotilde Moreira, Algés

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