Cartas ao director

Motivo de júbilo

A previsível vitória de Macron na segunda volta das eleições francesas — há sondagens que lhe dão mais de 60% dos votos — é motivo de júbilo para todos os democratas e europeus. O sucesso de Trump nos EUA poderia indiciar o de Marine Le Pen em França, mas, felizmente, os franceses não são os americanos. Os primeiros são cultos e esclarecidos, os segundos não tanto. O revés da extrema-direita em França terá forte influência nas eleições alemãs de Setembro, onde Merkel deverá ser apeada do seu pedestal, abrindo a porta a Martin Schulz, outro democrata e europeu, tal como Macron. O meu camarada Vicente Jorge Silva já falou no PÚBLICO do eixo franco-alemão que Macron e Schulz podem protagonizar e que se poderá equiparar, no mínimo, ao Paris-Bona de Giscard d’Estaing e Helmut Schmidt. E sem apoio na Alemanha e França, Donald Trump perde margem de manobra. O mundo fica mais tranquilo e a Europa sobreviverá.

Simões Ilharco, Lisboa

Hooligans à portuguesa

Alguém disse que o futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes das nossas vidas. Infelizmente, pouca gente percebe isso, de modo que aconselhava todos os que não percebem a fazerem uma espécie de período de nojo e reflectirem sobre o que estão a fazer, não só ao futebol, mas ao desporto em geral. Para esses gabinetes de comunicação que são autênticas madraças de fundamentalismo desportivo, para os presidentes de clubes que denigrem a imagem da sua própria sociedade desportiva, para os profissionais da comunicação social que não despem a camisola, para os chefes de família que vêm descarregar as suas frustrações nas redes sociais, para os desocupados que andam a ameaçar árbitros e para os comentadores televisivos que não são mais do que instigadores de ódio, mudem a vossa conduta ou serão tratados como hooligans à portuguesa. E aí as autoridades nacionais terão que chamar as britânicas, habituadas a tratar do hooliganismo e a arruaça virtual.

Emanuel Caetano, Ermesinde

A época de saldos já abriu no Ministério da Educação 

Neste momento, são muitos os professores a correr às lojas (computadores) para tentar encontrar uma peça de vestuário (colocação). Não será fácil devido à afluência que se faz sentir. Os docentes vão ter de jogar ao jogo das cadeiras para conseguiram apenas uma camisola, ou seja, uma esperança para voltarem a vestir-se na loja do Ministério da Educação. Os portugueses são rotulados como deterministas e resilientes, não fossemos nós um grupo de exploradores... Vamos ver até onde a resiliência nos leva! 

O tempo de espera leva muitos dos profissionais a abrir a caixa da sua infância e a navegarem por aquilo que gosto de chamar barco das emoções, porque nesta altura os sentimentos que pautam o quotidiano neste sector são a incerteza e a impotência. (…) Vamos lá ver quantas pessoas passam no teste.

Rashid Rahimo, Sintra

Os maiores

A polémica está instalada com a pretensão da coordenadora do BE limitar os salários dos gestores das empresas privadas. O BE e o PCP, talvez por incapacidade dos seus políticos, demonstram uma aversão figadal aos que possuem ou ganham muito dinheiro; parece que é mais importante acabar com os ricos do que com os pobres. Ganhar muito ou pouco não sei contabilizar em termos de gestão, mas talvez o BE e o PCP nos elucidem se um Horta e Costa, que pegou num banco britânico e o tirou da falência, um Mexia, que levou a EDP por esse mundo, Amorim, Soares dos Santos, Belmiro Azevedo, Mellos, para não falar nos antigos Alfredo da Silva, Champalimaud, Espírito Santo e tantos outros, que enriqueceram e desenvolveram o país, ganhavam muito dinheiro. (…) As legislativas, que deveriam eleger os deputados para representantes do povo, dão-nos afinal deputados impostos pelos partidos e não pelos votantes, que a breve trecho se julgam uns intocáveis, os maiores. (…)

Duarte Dias da Silva, Lisboa

Os partidos

Qualquer sistema democrático, independentemente da sua forma, tem por base os partidos políticos; os nossos foram formados após quase meio-século de ditadura e no desenrolar de uma tentativa comunista de nos encaminhar para outro pesadelo.

Neste contexto, a nossa democracia ficou amputada de qualquer partido de direita clássica, tendo os partidos constituído projectos entre a democracia-cristã a social-democracia e o marxismo de diferentes matizes. Hoje, passados mais de 40 anos, não repensámos este modelo e os partidos existentes não se renovaram; contados os militantes dos quatro maiores partidos, estou certo que não chegaremos a mais de 200.000 portugueses (em 15 milhões é muito pouco!), sendo a maioria destes de idade já avançada!

Penso que para o futuro da nossa democracia, que desejaria robusta, não seria má ideia as nossas escolas e, sobretudo, as universidades, de uma forma pacífica e esclarecedora, informassem os seus alunos dos programas dos partidos que temos e, porque não, dos que não temos. Facilitando aos partidos campanhas de adesão, deste modo evitaríamos uma democracia estática e em envelhecimento acelerado.

Ezequiel Neves, Lisboa

Médicos indiferenciados, nunca!

Um jovem colega meu, Afonso Moreira, médico interno, escreveu um artigo — “Médicos sem especialidade?” — no PÚBLICO de 10 de Abril, de enorme importância e actualidade. O assunto vai passando sem discussão pública, "esquecido" que está na voragem das notícias, mas vamos todos "torcer as orelhas" quando, dentro de algum tempo, os portugueses (alguns...) sentirem os efeitos de tão dolosa medida. O deixar "ficar de fora" de uma qualquer especialização (…) milhares de licenciados é um "crime" para os doentes e um perfeito desperdício do esforço e dignidade dos primeiros.

Poderão dizer-me que os licenciados de outros cursos também não têm emprego garantido, mas a Medicina tem características únicas pois só depois da formação pós-licenciatura (os tais internatos a que muitos não terão acesso) é que passarão a ser... médicos. Portanto, acesso à formação em internatos todos terão que ter (e é fulcral relevar aqui que a Medicina privada não faz formação organizada) e terminada aquela é que somente alguns ingressarão por valia avaliada, numa carreira pública. Médicos indiferenciados, nunca!

P.S.: Já assinei a petição pública que pede a suspensão do que "querem" fazer" aos médicos e, pior ainda, aos doentes!

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

Quanto custa manter a CGD

As injecções de capital público na Caixa Geral de Depósitos (CGD) nos últimos 17 anos totalizaram mais de dez mil milhões de euros: cada português contribuiu com mais de 900 euros. A acumulação de prejuízos é a prova da incompetência dos gestores nomeados. Enquanto o Ministério Público investiga suspeitas da prática de gestão danosa no banco público, o plano de recapitalização prevê o despedimento de dois mil funcionários. Quando a CGD aceitou quadros de Joe Berardo para cobrir créditos obtidos para a compra de acções do BCP, está quase tudo dito. Os fundos públicos não têm fim.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

 

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