Cartas ao director

Homenagear o 25 de Abril

A melhor forma de comemorar um momento feliz é recordá-lo e fazer algo de simbólico que honre a sua memória. O 25 de Abril, com os seus paradoxos, mas com a beleza única que constitui o derrube de uma longa ditadura, apenas pode ser comparado com o 25 de Dezembro de 1991, dia em que a terrível ditadura comunista liderada pelo PCUS caiu com estrondo na extinta União Soviética!

Um dos paradoxos do 25 de Abril foi materializado pelo envio para Moscovo, pelo PCP, de parte dos ficheiros da polícia política salazarista, a PIDE, organizada em moldes muito semelhantes aos da odiada Stasi... Que melhor forma de homenagear o 25 de Abril que pedir de volta aqueles arquivos? Quem outrora teve no topo das suas fidelidades a URSS deve, hoje, reparar o seu erro e devolver ao seu país os documentos que ilegitimamente lhe subtraiu. O PCP deve aprender com a sua história e, honestamente, reconhecer o seu erro e pedir desculpa aos seus concidadãos. Se tal acontecer, o que muito me espantaria, serei eu o primeiro a dizer: obrigado, PCP! Viva o 25 de Abril, dia da Liberdade!

Ezequiel Neves, Lisboa

A propósito do 25 de Abril

Aproximam-se os festejos das efemérides do 25 de Abril. Quando se deu este acontecimento, tinha regressado há pouco tempo de Angola, onde estive em comissão militar como comandante miliciano de uma companhia. Num daqueles dias de conversas "militares" informais, "sigilosas e confidenciais", alguém disse que teria havido um consenso entre as chefias de Angola para um segundo grito do Ipiranga (era comandante-chefe de Angola o general Costa Gomes). No Verão de 1974 haveria uma imposição desses governantes ao Governo Central de Lisboa e, após a recusa deste, haveria o tal grito. Isto com a anuência de Marcelo Caetano, que não teria coragem de tomar a iniciativa da descolonização. Boato? Não se sabe, embora pareça ter havido (com o ámen de Caetano) uma reunião prospectiva, em Londres, com portugueses e chefes dos movimentos, para aflorarem o assunto. Uma coisa é certa: em Angola, depois de 1972, a guerra tinha acabado; na Guiné, era cada vez mais insustentável; em Moçambique a coisa era dura mas ainda pouco esclarecida. Perante este quadro, com os oficiais do quadro a ficarem saturados de tantas comissões e a usurpação de lugares na carreira pela entrada de capitães milicianos, o regime estava mais do que amadurecido e a fruta prestes a cair de podre. Aquela "manobra de Angola", que não interessaria nem à URSS nem aos EUA, poderia ter acelerado o processo que deu no 25 de Abril. Quando o Estado Novo já era uma carcaça, a sua queda prematura de meses não beneficiou o povo português, mas trouxe uma euforia que só a liberdade nos dá. A História talvez um dia acerte este dia.

Duarte Dias da Silva, Lisboa

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