Cartas ao director

Sobre o número de alunos por turma

Fui estudante do antigo ensino secundário (1962/1969) num tempo em que o número de alunos por turma era sempre superior a 30: e fui mesmo, em variados anos, o 33, 36 ou até mesmo 38, como nesse tempo nos carimbavam. Claro que éramos uma percentagem diminuta de jovens a frequentar os liceus e que vínhamos de enquadramentos socioculturais mais ou menos equilibrados e diferenciados. Enquanto adolescentes e pré-adultos cabia em nós toda essa força contestatária, sobretudo, para alguns em que me julgo inserir, uma dinâmica de inquietação e de aversão pelo regime em que existíamos. No liceu que eu frequentava, no final dos anos 60 (o Padre António Vieira), chegámos mesmo a manifestar, através de graffiti, a nossa indignação com o regime. Sei que, em virtude do feliz alargamento a todos os jovens do sistema educativo, que o 25 de Abril veio a propiciar, a massificação do ensino veio a gerar novos desafios aos docentes e aos alunos, em particular de natureza disciplinar. Oiço, com frequência, as queixas de amigos docentes do básico e do secundário, sobre a intensidade gasta no apaziguamento comportamental dos estudantes. Claro que a escola não deve ser um curral de animais que se procura domesticar. Mas, por vezes, não passa disso mesmo. Acredito que a redução do número de alunos por turma possa contribuir para o amaciamento do problema, mas também acredito que a solução não reside aí, mas muito longe, a léguas de distância. Embora também o sendo, parcialmente, a solução não é política: é etimológica e estruturalmente educativa. Apenas a compreensão disto poderá abrir caminho à sua resolução. (…)

Luiz Conceição, Lisboa

Que resta do 25 de Abril?

A data mais generosa da história milenar de Portugal foi o 25 de Abril. Nunca teve consenso. Basta falar do movimento popular de 1974-75 para as divergências surgirem irredutíveis e, apesar dos pesares, aqueles dois anos continuarem a ser aferidores. (…) Que resta do 25 de Abril? Pouco. (…) Que é feito daquela bela dignidade das pessoas comuns que há pouco mais de 40 anos descobriram que era nas assembleias que se discutiam e resolviam questões da sua vida colectiva? (…) Era inevitável que as grandes esperanças de 74-75 viessem desaguar neste pântano?, perguntei a um operário em desconstrução (desempregado). “O que eu queria era outro 25 de Abril!”, respondeu. “É a liberdade o valor superior e insubstituível que o 25 de Abril trouxe e que deve ser celebrado e defendido. Sempre”, escreveu São José Almeida no PÚBLICO. Pela esperançosa frase, a ilustre jornalista merece um “petaludo” cravo vermelho.

Vítor Colaço Santos, S. João das Lampas

25 de Abril sempre, sem-abrigo nunca mais

O 43.º aniversário do 25 de Abril vai ser comemorado com pompa e circunstância. Discursos inflamados, emotivos e circunstanciais vão elevar a democracia e a liberdade como grandes conquistas. Convém não esquecer que nunca os políticos profissionais tiveram tantas regalias como após o 25 de Abril. Os sem-abrigo são imagem de marca de uma revolução falhada a nível da assistência social. Quase meio século após a revolução “abrilista”, o Presidente da República apela ao governo para disponibilizar um tecto para os moradores das ruas. 25 de Abril sempre, sem-abrigo nunca mais.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

 

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