Cartas à Directora

"Brexit"?

Somos tentados a simplificar o que se presume vai acontecer [agora], com a votação (livre e soberana, que temos que reconhecer como democrática) no Reino Unido sobre o “Brexit”, com a imagem de um casal (União Europeia e Reino Unido) de costas voltadas, a caminharem em sentido contrário.

Mas esta imagem pode ser, ou não, enganadora. Pode, ou não, ser o inverso figurativo do que, realmente, está a acontecer.

Esta "União" Europeia, desde há pelo menos 25 anos, baralhou a sua "caixa de velocidades": substituiu o humanismo, a “cidadania europeia” e o respeito pelas opiniões dos europeus pela euro-burotecnocracia, o Modelo Social Europeu e o valor do trabalho pela insensibilidade social e pelo financeirismo, a harmonização no progresso social pelo retrocesso social e pela acentuação das desigualdades, a solidariedade pelo neoliberalismo com resvalamento objectivo (no mínimo, por omissão) até para a xenofobia e para o racismo.

Em resumo, (est)a "União" Europeia, relativamente à sua génese de valores, de princípios e de propósitos, começou a andar para trás: socialmente, economicamente, politicamente.

Então, não nos podemos (devemos) iludir. O que está (e está, com certeza, em parte) subjacente a este "Brexit" de [dia 23] pode não ser não o objectivo do Reino (ainda...) Unido passar a andar em sentido contrário a esta "União" Europeia (UE).

Pode (e essa hipótese tem mais força pelo que e quem representam os primeiros cantores da "vitória", como, por exemplo o sr. Nick Farage...) ser o objectivo de se distanciar desta UE, sim senhor(a), mas andando no mesmo sentido, para trás (social e politicamente). Só que... (ainda) mais depressa que esta (des)"União" Europeia.

Mas também pode essa imagem (potencialmente) corresponder ao (futuro) real, á hipótese de que, com a separação deste “(des)amante”, a União Europeia inverta a marcha e (de novo) passe a (social, económica e politicamente) a andar para a frente.

Afinal de contas, se “uma imagem vale mais do que mil palavras”, também vale bem duas hipóteses (aparentemente) contrárias. E isso também depende muito de nós, depende, aqui, muito mais do que das imagens, das nossas (muitas vezes mil) palavras. E, claro, das nossas acções. Pessoais, sociais, políticas.

Em resumo, … “Brexit”?

João Fraga de Oliveira, Santa Cruz da Trapa

Orgulhosamente sós, ou o princípio do fim?

O Reino Unido votou e escolheu meter-se na sua concha deixando a UE, à qual nunca pertenceu de corpo inteiro.

É que a velha Albion nunca gostou de repartir os seus pertences; pelo contrário, viveu séculos coloniais à custa de outros povos e civilizações.

Agora, vamos ver se a UE se reforça, unindo-se em torno deste revés, ou se se desagrega em várias ilhas cercadas de muitas fronteiras.

Resumindo: parece que o sonho de Jean Monnet começou a desintegrar-se.

José Amaral, VNGaia

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