Cartas à Directora

Os leitores do PÚBLICO e Paquete de Oliveira

Seria demasiada sorte se esta carta fosse dada à estampa pois aquela já a tive no PÚBLICO de hoje [12/6], mas ficaria de mal com a minha consciência se não a escrevesse. A minha singela gratidão ao Doutor Paquete de Oliveira, um SENHOR como se diz na gíria. Tantas vezes o pude comprovar nas cartas que lhe enviei e que recebiam uma lhanesa de trato mesmo que nem sempre me dessem razão. Firme e ducado, não posso deixar de relevar (e assim o lembrar melhor) as duas fases que marcaram a sua provedoria no PÚBLICO: à inicialmente "neutra" e objectiva, seguiu-se a mais recente, possivelmente por "não poder mais", assertiva na posição de si mesmo e de que, confesso... gostei.

Até sempre caro SENHOR Provedor!

Fernando Cardoso Rodrigues, Porto

 

Presto a minha sentida e humílima homenagem a José Manuel Paquete de Oliveira, Mestre Jornalista, asseado na escrita e na forma progressiva de alinhar as suas ideias enquanto Provedor do PÚBLICO.

Tive o privilégio de poder trocar algumas palavras com o brilhante Paquete de Oliveira, num Encontro de Leitores que escrevem textos de opinião para os jornais. Calmo, ponderado, sensato e cordial.

A sua presença honrou-nos e a sua intervenção marcou, quão importante é o dever/direito de cidadania, espelhado na intervenção directa e escrita para os média. Senti-o combalido e perguntei:

‘Está bem de saúde?’ – Não bem. Augurei-lhe bastas intervenções como Provedor, desejando-lhe que fossem fecundas e construtivas. Nunca perdi a página, sempre bem escrita do Mestre e amigo dos leitores – Paquete de Oliveira, no seu PÚBLICO.

A ti, de Oliveira, Paquete/ também me ensinaste/ a escrever/ e como ser,/ a crescer./ Dou-te um merecido vermelho cravo,/ as palavras, elevaste./ Mereces um grato – bravo! Não me morreste/ só fisicamente nos desapareceste...

Vítor Colaço Santos, S. João das Lampas

 

A tese de doutoramento de José Manuel Paquete de Oliveira, Formas de “censura oculta” na imprensa escrita em Portugal pós 25 de Abril, devia ser de leitura obrigatória para os estudantes de ciências de comunicação e para os que pregam a liberdade de imprensa e são os primeiros a torpedeá-la. Doutorado em Sociologia da Comunicação e da Cultura pelo ISCTE viveu para as diferentes formas de comunicação. O ex-provedor de telespectador da RTP partiu aos 79 anos. Nunca escrevi ao provedor de leitor do Público. Sempre considerei mais didáctico ler as suas crónicas. Como escreveu Manuel António Pina: “Isto é, palavras/ formas indecisas/ procurando um eixo que/ lhes dê peso, um sentido capaz de conter/ a sua inocência/ uma voz (uma palavra) a que se prender/antes de se despedaçarem/contra tanto silêncio”.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

 

(…) Conheci o Paquete de Oliveira quando eu vivia na Madeira e ele era pároco na Sé do Funchal, antes de 1974. Mesmo os não praticantes, como eu, iam à missa do meio dia nos domingos, na Sé, só para escutar as homilias que ele proferia, com grande coragem e desassombro, denunciando as iniquidades sociais do antigo regime. Com o 25 de Abril foi um dos 3 nomeados para Junta Governativa (não sei se se chamava assim), e o papel dele foi fundamental para apaziguar as tensões que já se desenhavam na altura. Convivi com ele nessa altura também, e guardo excelentes memórias desse tempo. Depois a vida afastou-nos, eu vim para o Algarve, e encontrei-o esporadicamente algumas vezes, quer na Figueira da Foz quer em Lisboa. É mais um vulto notável da nossa cultura, tão pobre de elites dignas deste nome.

F. S. Pessoa, Algarve

 

Morreu [na tarde de 11/6] o provedor do leitor do Público, o dr. Paquete de Oliveira, que almoçou com os leitores o ano passado em Lisboa, no 2.º Encontro Nacional de Leitores. Sentou-se à minha frente, ouvindo mais do que falando. Passou o dia todo connosco. Foi, até ao momento ,o único provedor do leitor que estabeleceu correspondência com os leitores.

Recordo, como exemplo , a sua crónica de 5 de abril de 2015, uns dias depois de ter estado connosco , intitulada "O jornalismo dos 'cidadãos comuns'" onde defendia a ideia de que "perceber os leitores é decisivo para a garantia de um elo que dá sentido e transparência a um jornal".

Perdemos alguém que nos apoiou - mencionou todas as nossas iniciativas e cumpriu com o seu papel de provedor até ao fim, não obstante a sua doença e os agressivos tratamentos a que foi submetido. A última crónica foi apenas há cinco dias, dia 6 de junho ("Não há jornais de direita nem de esquerda em Portugal").

Paquete de Oliveira foi uma dessas raras pessoas que  sabe pôr-se ao serviço dos outros, utilizando o seu poder, a sua profissão , a sua autoridade e sabedoria. Morreu fisicamente, mas , como disse certa vez," socialmente, podemos morrer e nascer várias vezes”.

Obrigados ao senhor Provedor.

Resta-nos esperar que o Público o possa substituir da melhor forma, ou seja, convidando alguém que continue a ouvir  e dar voz aos leitores do Público.

Céu Mota, Sta Maria da Feira

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