Cartas à Directora

Num segundo

Escrevo a propósito das 13 estudantes universitárias em Erasmus, que morreram no dia 20 em Tarragona, Espanha, num acidente entre um autocarro e um automóvel ligeiro de passageiros e das 26 pessoas mortas nas explosões em Bruxelas (metro e aeroporto) na manhã desta terça-feira...

Liguei imediatamente a “sorte” destas pessoas à história ficcionada de um escritor de algum sucesso que, num dia frio de Inverno, atropela uma criança. Não tendo culpa directa no que aconteceu, aquele momento vai marcar drasticamente a sua vida. Este é o argumento de “Tudo vai ficar bem” (2015), um filme de Wim Wenders. Conversando com Luís Caetano (A Força das Coisas, antena 2) sobre o filme e o carácter vulnerável da humanidade, o cineasta e dramaturgo alemão disse: "de um momento para o outro as nossas vidas podem mudar. Pode acontecer a qualquer um de nós. Que gostaríamos de voltar atrás... mas não podemos. Não conseguimos. Habitualmente isto acontece aos outros. Nós lemos sobre isto. Há acidentes... aviões que caem... e de repente eis que acontece a nós próprios e somos nós que temos que responder à questão de “como ultrapassar o trauma?”; “Como continuar a viver ou como ajudar os outros a continuar a viver depois de algo terrível?” Não estamos preparados.

Tudo vai ficar bem...

Céu Mota, Sta Maria da Feira

 

Lula da Silva

Fico indisposto com a onda emotiva que varre o Brasil. Apenas uma vez estive no imenso país a cuja génese estamos profundamente ligados, para o bem e para o mal. Se houve coisa que me tocou, numa viagem de "ônibus" (autocarro) entre S. Paulo e Belém, foi a gentileza e simpatia dos restantes passageiros. Foi por isso que, questionado uma vez, pelo Rádio Clube do Pará, sobre o que mais apreciara no Brasil, respondi de imediato: as pessoas. 

Todavia, o imenso país irmão é um jardim de contrastes: ao lado do altivo castanheiro da Amazónia com o seu fruto semelhante a projéctil de canhão, está o arbusto humilde. Assim com as pessoas e sua estratificação.

Lula da Silva subiu na política a partir da sua base de operário. E o poder costuma "subir à cabeça"... Foi assim com inúmeras figuras históricas.

Como médico que sou, desafio os que se atiram a ele, porque nunca foram pobres (de bens materiais): Os que nunca foram "corruptos", nem na coisa mais ínfima, que desçam do altar e lhe atirem a primeira pedra.

Um conselho para Lula, seus apoiantes e oponentes: O político que defendeu os pobres está manifestamente desgastado, talvez doente; deixem-no acabar os seus dias em paz.

Antides Santo, Leiria

 

Assim se saiba lutar: escrever

(Texto dedicado a todos os grandes profissionais que são os jornalistas do Diário Económico)

Os grandes ditadores – ninguém crê que os haja em democracia, mas do alto financeiro ao grande herdeiro, do pároco da aldeia ao tiranete da loja do shopping, do catedrático ao chefe do sindicato, do sucateiro ao merceeiro que reza pelo regresso "de um Salazar que ponha ordem nisto!", que os há, há – os grandes ditadores, digo, rejubilam com a morte de um jornal. Os grandes leitores, esses, choram e ficam com medo. No entanto, o medo e o choro – sabemo-lo bem – é também muitas vezes impulso criativo, motivo para a luta. Assim se saiba lutar: escrever.

Nelson Miguel Bandeira, Porto

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