Cartas à Directora

Uma brincadeira de mau gosto

Pronunciando-se, nos órgãos da comunicação social, sobre o projecto do Orçamento de Estado (OE) 2016 que o Governo tem para discussão na Assembleia da República, um vice-presidente do PSD referiu-se ao documento, também já enviado à Comissão Europeia, como uma brincadeira de mau gosto. Noutro momento, o porta-voz do PSD, numa arrancada heróica, disse que o OE está morto na sua credibilidade. Estas frases, ditas por altos responsáveis políticos, só podem criar mau ambiente dentro e fora de Portugal. É inacreditável como políticos que estão indigitados para defender o bom nome do país, ou seja do seu povo, têm um tal comportamento. Sendo parte desse povo, ofendê-lo, é ofender-se a si próprio. Isto demostra a indigência intelectual de quem produz tais afirmações, ao mesmo tempo que arrasa o prestígio do país, que tem esta “classe” de gente a comandá-lo.

Isto ultrapassa tudo o que seria previsível como falta de respeito pelo povo e pelo Estado Português. Isto já não é luta política. Isto é arrogância e ganância pelo poder. Com estes comportamentos partidários não é possível levar o barco numa rota certa.

Numa intervenção pública do mesmo jaez, outro dirigente do mesmo partido teve a infelicidade, porque duma infelicidade de um mau gosto atroz se trata, de nomear como “geringonça” o acordo político entre a maioria de esquerda representada no parlamento.

Porque os representantes do povo nos merecem todo o respeito, e porque essa maioria legitima mais de 50% dos eleitores, chamar “geringonça” a essa representação é de um tão mau gosto, que diria mesmo, é uma baixeza moral.

Mas, se estivermos com atenção, verificamos que não se levantaram vozes suficientemente incomodadas com tal afirmação, nem mesmo entre os comentadores políticos, que educam a nação.

Com epítetos, como “geringonça” aos acordos políticos, e de “brincadeira de mau gosto” ao OE, e outras infames designações, a organização estatal abandalha-se, a democracia destrói-se e o país afunda-se, porque um povo não pode existir sem dignidade.

Joaquim Carreira Tapadinhas, Montijo

 

Desejos e profecias contra o PCP

Alguns politólogos de retórica emplumada vaticinam desde há décadas o passamento do PCP. Basta um insucesso, um recuo eleitoral, ou uma frase do Secretário-geral menos feliz, para que se desate a magia verbal incandescente que converte em cinzas a fortaleza que perdura há quase um século da nossa História. Os ataques vêm quase sempre da direita, liberal ou extremada, que se esqueceu do nosso meio século XX de ditadura fascista, mas cuja descendência ficou muito traumatizada com o 25 de Abril, o PREC e a Constituição da República. E, é claro, a força do PC, ora demonizado como poder oculto por detrás do novo governo PS, ora minimizado e reduzido à insignificância de quase duas centenas de milhares de votos do candidato Edgar Silva. Confundem-se desejos com realidades, para apoucar o inimigo. A verdade é bem diferente, o barómetro eleitoral oscila em todos os quadrantes, CDS, PSD, PS, Bloco de Esquerda e PCP. São permeabilidades e flutuações dos eleitorados. Os juízos que passam nos Media terão fazer prova na próxima ronda.

 

José Manuel Jara, Lisboa

 

 

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