A transparência na informação

Provedor do Leitor

Não estou em crer que a TVI venha a ser condenada por qualquer tribunal por causa da informação que deu sobre o Banif. Após o ultimato do Banco Central Europeu (BCE), se não fosse a decisão do Banco de Portugal (BP) e do Governo, que tem essa penumbrosa designação de "resolução", o fim do banco era o que iria acontecer. É verdade que a notícia da TVI caiu com um enorme estrondo e fez os depositantes do Banif acorrerem aos balcões do dito banco para esvaziarem/“salvaguardarem” mil milhões de euros. Quem tem de ser julgado é quem anda a esconder há tanto tempo a situação dos bancos e de todo o sistema financeiro português.

Ainda na minha última crónica escrevia que esta situação comatosa do sistema financeiro não pode continuar a ser disfarçada, “escondida” pela comunicação social portuguesa. Finalmente parece que um dos efeitos de mais este rombo no sistema e no bolso dos portugueses é o de a comunicação social estar a deixar de lado os pruridos e os “paninhos quentes” com que trata esta questão. Faz-se silêncio ou sofisma-se em nome da “confiança” sempre invocada pelos responsáveis do sector e da governação como valor mais alto e definitivo para fazer funcionar o sistema. Mas, como escrevia Manuela Ferreira Leite, no Expresso (31/12/2015), "os cidadãos deviam ter o dever indiscutível de conhecer a situação real da banca, não só por se tratar de uma actividade essencial para o desenvolvimento do país, como porque todas as consequências de uma má gestão recaem, directa ou indirectamente, sobre os contribuintes".

Todas as decisões para salvar os bancos que têm falido (falido, é o termo certo) e já lá vão o BPP, o BPN, o BES  têm passado por esse “colete de salvação” da intervenção do Estado, mais prosaicamente pelo recurso do dinheiro dos contribuintes, sempre em nome do dito “perigo sistémico”.

Nos últimos quatro anos não foram só os técnicos da troika que dominaram o panorama, ou melhor, as incidências do espectro económico e financeiro do país. No sector da informação dominaram os jornalistas e comentadores especialistas nesta área. Saltavam de canal em canal televisivo, apregoando a sua receita. E nos jornais também. A maior parte destes fomentava o seu “discurso” na exigência de defender o equilíbrio das contas públicas e de evitar o tal “perigo sistémico”. E neste contexto está ainda por explicar e perceber como jornais económicos que não têm vendas superiores a cerca de 3000 cópias têm a força de opinião que têm.

Evidentemente, há excepções. E exemplos nas secções e jornalistas de Economia do PÚBLICO, do Expresso, da SIC, da TVI são de elogiar. Mas parece que, efectivamente, estamos num campo em que a autocensura ainda funciona, por duas fortes razões: é sempre perigoso ser acusado de responsável por causar danos na “confiança” dos clientes do sistema; é este, o sector financeiro, que mais "sustenta" os media

Daqui desafio a secção Economia do PÚBLICO a abrir um dossier sobre este assunto. É matéria delicada, explosiva, perigosa. Mas é preciso, em nome do bem público, esclarecer porque falem estes bancos, quem e como os leva à falência. Alguma imprensa tem levantado o véu sobre, afinal, os “beneficiados” desta situação pelos empréstimos que contraem e não pagam, pela condescendência, paroquialismo e amiguismo dos gestores, pela sua conivência política e partidária. Neste sector, o muro dos segredos terá de cair, para que o risco do dito “perigo sistémico” deixe de ser restrito ao sector financeiro, mas extensível a todo o sistema social.

Hoje, fala-se muito na sociedade da transparência. Mas interessa que esta designação não seja mais um epíteto para deixar à vista de alguns o que se quer e para esconder o que se quer aos olhos de todos. Como diz o filósofo germano-coreano Byung-Chul Han, “a obsessão com a transparência manifesta-se não quando se procura a confiança, mas precisamente quando esta desapareceu e a sociedade aposta na vigilância e no controlo". E, neste campo, o papel da imprensa terá de ser decisivo.

 

CORREIO LEITORES/PROVEDOR

Comentadores

A propósito do tema comentadores, escreve o leitor A. Betâmio Almeida: "Na minha opinião, o que se passa na comunicação social é grave e muito complexo. Grave para os profissionais e para a democracia. (…)  É um erro basear a estratégia da comunicação em comentadores residentes que se tornam profissionais do comentário. Uma coisa é um cronista que nos transmite uma mais-valia intrínseca: um escritor, um cientista... Uma coisa são artigos de opinião mais ou menos frequentes que suscitam a reflexão, novos conhecimentos (exemplo: o texto de José Oliveira Antunes de 14/12/2015 sobre os mercados). Outra coisa é ter comentadores para flutuarem ou fazerem carreira como orientadores pessoais. Pior quando se limitam a 'brigar' com pessoas por tudo e por nada, e a denegrir pessoas, utilizando a esperteza para, em 'tiro instintivo' de escrita, mandarem um texto a tempo e horas. (…) 

"Para discutir futebol como é habitual ver, ou numa secção de humor, poderiam ser úteis, num jornal de referência não me parece. Felizmente temos um número do PÚBLICO, como o de domingo 27/12/2015, com o diálogo entre Frederico Lourenço e Frei Bento Domingues. Mas lembro de novo o caso do anúncio do PÚBLICO (19/12/2015): uma publicidade partidária quase disfarçada, mas também muito descarada de oito páginas. Já sei, o PÚBLICO precisa de dinheiro e não quer saber do conteúdo da publicidade. Muito bem. Mas o leitor o que pensa? Quem paga? A UE? Dinheiro de quem? Que interesse tinha aquilo? Ingenuidade?

"Bem, nestes momentos, lembro-me sempre de uma afirmação atribuída a Eleonor Roosevelt: 'Grandes mentes discutem ideias; mentes medianas discutem eventos; mentes pequenas discutem pessoas.' Na minha opinião, o PÚBLICO deveria proporcionar mais a discussão e o aprofundamento de ideias, analisar acontecimentos. Mas os comentadores deveriam 'meter-se' menos com pessoas, como se fossem juízes da moral pública."

Gralhas e erros

O leitor João Carlos Pereira Brandão chama a atenção de alguns erros e gralhas em recentes gráficos que podem significar menos cuidado e qualidade: "Na edição do sábado 26 de Dezembro, na página 19, secção Breves – Banca, pode ler-se: 'No conjunto 17 países, que representam... rectificaram os estatutos.' Certamente seria ratificaram, pois nada refere as rectificações feitas, mas, por ignorância ou pressa, a notícia saiu errada."

"Já que estou em maré de apontar erros, agora, que o PÚBLICO está novamente a reduzir o seu quadro, quero apontar mais um erro num gráfico publicado. Noto que já em mensagens anteriores fiz notar a dificuldade que os jornalistas do PÚBLICO têm em lidar com os números e a sua representação gráfica. No gráfico da página 3 da edição do dia 29/12/2015, artigo sob o título 'Nem com mais receitas da TV os 'grandes' vão poder segurar os craques', a linha de baixo está claramente errada."

Protesto por suplemento não identificado

Do leitor Jorge Afonso recebi o seguinte protesto: "Venho por este meio protestar veementemente pela inclusão de um suplemento publicitário não referenciado e como tal publicado na edição de 19/12/2015. Refiro-me ao suplemento de oito páginas intitulado 'Orçamento UE 2016' que, sendo propaganda pura do PPE, deveria, no mínimo, ser referenciado como 'publicidade'. Sendo leitor, não diário, desde o seu início e tendo-me tornado recentemente assinante da versão digital, não posso deixar de protestar com tamanha falta de ética."

A Direcção Editorial do PÚBLICO confirma que a ausência da palavra “publicidade” é obviamente um lapso de edição e sublinha que, apesar disso, é notório que este é um suplemento publicitário. A ficha técnica é bastante explícita. Tem paginados os logótipos do PPE e do PSD-Grupo Europeu, a seguir aos quais informa o seguinte: “Produção: Grupo Europeu do PSD/Grupo do PPE no PE.” Além disso, na primeira página do suplemento, no canto superior direito, está bem visível o logótipo do PPE.

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