Antes viver assim

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Sabemos que perdemos tempo a ter medo do que pode acontecer e que o tempo que passamos preocupados podia ser ocupado por coisas que gostamos mais de fazer.

Mas, se calhar, não é tempo perdido. Para quem o perde por não conseguir fazer outra coisa, até parece tempo bem passado, passado a pensar no que merece.

Li nuns artigos que a distracção, quando se está gravemente doente, até encurta a sobrevivência e, enquanto se sobrevive, abre mais os braços à depressão.

Dizem-nos para pensar noutras coisas - mas não basta dizer. Quando pensamos noutras coisas, é bom, mas acontece por acaso. E, quando voltamos a pensar naquilo que nos preocupa, o choque é maior.

A distracção paga-se. Há vantagens em estar sempre a remoer. Para já, é o que apetece fazer. Não requer esforço. É espontâneo. É natural. É pena isto soar como um anúncio de uma água mineral. Mas a água da torneira, trabalhada e limpa, artificialmente distribuída em canos, é que é estranha. É boa, faz sentido e faz bem - mas é artimanha. As águas de nascentes, que brotam onde brotam, é que são naturais. Irradiá-las, filtrá-las, engarrafá-las e distribui-las já não tem nada a ver com elas.

Assim é com a preocupação. É uma espécie de sangue. Não pensar no futuro e viver dia a dia será assim tão inteligente? É o que fazem os estúpidos dos animais, que vivem no presente mas morrem pouco depois, depois de uma vida de paranóia, sustos constantes e medos sem fundamentos. Antes viver assim.

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