Burmester há 250 anos no vinho do Porto

Depois de ter comprado no ano passado a J.W.Burmester, o grupo Amorim comemora hoje os 250 anos da empresa. Com uma facturação de 500 mil contos, a Burmester vai investir em novas plantações de vinha.

Há precisamente 250 anos instalava-se em Portugal uma das empresas míticas do universo empresarial do vinho do Porto, a J.W.Burmester. Depois de ter estado sob a salvaguarda da família Burmester por mais de dois séculos, a empresa foi comprada pelo grupo Amorim no ano passado, num negócio avaliado em cerca de três milhões de contos. Como Américo Amorim havia afirmado, "a compra da Burmester não foi propriamente uma surpresa", tanto mais que, tendo a actividade do grupo português começado em 1870 com a produção manual de rolhas para o vinho do Porto, o empresário já tinha tentado juntar por duas vezes o negócio da cortiça ao do vinho.Em 1989, a Cofipsa do grupo Amorim tentou, em parceria com Carlo de Beneddeti, comprar cerca de 40 por cento da Real Companhia Velha à família Silva Reis, tendo, já em 1999, fracassado igualmente as negociações para a aquisição da Quinta do Ventozelo. Dez anos volvidos, fecha-se o negócio entre as famílias Burmester e Amorim. Com a compra desta empresa, o grupo passou ainda a deter uma outra firma de vinho do Porto - a Gilbert's - e a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, uma propriedade com 120 hectares em pleno coração do Douro comprada no início da década de 90 pelos Burmester aos accionistas da Real Companhia Velha por 300 mil contos, . A empresa tem uma quota de mercado da ordem dos 0,7 por cento do sector do vinho do Porto e registou no ano passado um volume de negócios de 500 mil contos. Dos 120 hectares da Quinta Nova, 45 estão já plantados, tendo o grupo adiantado ao PÚBLICO que prevê, nos próximos dois anos, atingir os 78 hectares. Este ano foram já plantadas as castas tradicionais, sobretudo a Touriga Nacional, Tinto Cão, Souzão e Tinta Amarela.A Burmester está neste momento a desenvolver a nova imagem das três marcas com uma empresa inglesa, uma campanha que estará no mercado no início de 2001. A directora de marketing da Burmester, Luísa Amorim, adiantou ao PÚBLICO que, "no próximo ano, a Burmester vai investir ainda no centro de vinificação da quinta e em tecnologia de ponta para vinificar as melhores massas vínicas que se encontram na região". A estratégia da Burmester, a médio e longo prazo, assenta na qualidade dos seus vinhos, para que distinções como a que a Decanter fez aos Portos "Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo Vintage 1997" e "Burmester Vintage 1997" se voltem a repetir. A empresa é sobretudo conhecida no mercado pelos seus "tawnies velhos" - após cerca de cinco anos a envelhecer em cascos de carvalho o vinho perde a cor roxa original para gradualmente ganhar uma tonalidade dourada ("tawny") - comercializando ainda hoje os de 1937 e 1963, anos que os especialistas associam às grandes colheitas do século. A empresa trabalha com uma gama elevada de produtos , como os Vintage e os LBV ("Late Bottled Vintage"), este último introduzido no mercado pela primeira vez em 1964. Em 1995 começou a produzir vinhos de mesa, como a Casa Burmester e o Tavedo. Quanto a preços, o leque é largo: temos, por exemplo, o Burmester LBV 1992, que valia há três anos cerca de dois contos, e, para "bolsos" mais recheados, o Rio Torto Colheita 1900, um "tawny" que a empresa lançou no mercado com um reduzido "stock" de 350 garrafas de 75 centilitros, custando cada uma 150 contos.Hoje, o grupo Amorim comemora os 250 anos da Burmester no Palácio da Bolsa do Porto, acontecimento que ficará marcado pelo lançamento do livro "A saga da família Burmester - 250 anos no vinho do Porto", da autoria de Arnold B. Gilbert, antigo accionista da empresa.

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