Um Presidente sintonizado com o país das sondagens

Este mesmo Presidente, o dos banhos de mar em Cascais ou em qualquer outra parte do mundo, está sintonizado com o seu país ou, no mínimo, com o país captado pelos barómetros políticos.

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Sair a pé do Palácio de Belém para jantar num restaurante próximo, ajeitar as pedras da calçada ou comer um gelado em directo nas televisões são actos presidenciais que, em momentos distintos, têm contribuído para o circo mediático. A crítica é fácil: o chefe de Estado banaliza a sua imagem e a sua voz e desvia as atenções do essencial. Isto sente-se mais profundamente quando as incursões populares se dão em momentos de grande tensão política e se espera uma palavra do Presidente, como aconteceu em Maio, após o pedido de demissão de um ministro que foi rejeitado pelo primeiro-ministro.

Mas, de repente, surge uma sondagem que põe tudo em perspectiva. Este mesmo Presidente, o dos banhos de mar em Cascais ou em qualquer outra parte do mundo, está sintonizado com o seu país ou, no mínimo, com o país captado pelos barómetros políticos: aquela maioria que não está contente com o Governo, que defende a demissão de Galamba, mas que entende ser cedo para voltar a ter eleições e que se revê na decisão de não dissolver o Parlamento e apertar o escrutínio ao executivo.

Não é uma novidade. Em Fevereiro deste ano, antes dos "casos e casinhos" mais recentes (como lhes chamou o primeiro-ministro), já 53% dos inquiridos num estudo de opinião feito para o PÚBLICO e a RTP faziam uma má avaliação do Governo de António Costa (então com menos de um ano), mas 70% defendiam que a legislatura devia ser cumprida até ao fim, sem antecipação de qualquer acto eleitoral. Nessa altura, já a polémica indemnização a Alexandra Reis era do conhecimento público e já o ex-ministro Pedro Nuno Santos tinha saído do Governo, deixando o escaldante dossier da TAP nas mãos do seu sucessor João Galamba.

Mais de três meses depois de o Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Católica ter feito esse retrato da situação política, a situação do Governo fragilizou-se, o caso TAP lançou novos protagonistas para a fogueira parlamentar e mediática através da comissão de inquérito e a relação entre António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa deteriorou-se publicamente. O que não se perdeu, a acreditar nos estudos de opinião, foi a capacidade de Marcelo ler a vontade da maioria, mesmo que muitas vezes isso possa não ter correspondência com o seu desejo pessoal. Comer gelados é uma banalidade, mas é um dos fios invisíveis que ligam o Presidente ao país. Qualquer político devia experimentar fazê-lo. De preferência, sem audiência.

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