Treinadores estrangeiros campeões pelo Benfica reforçam maioria

O italiano Giovanni Trapattoni tinha sido o último técnico estrangeiro a levar os “encarnados” ao título, em 2004-05.

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Roger Schmidt lançado ao ar pelos jogadores do Benfica EPA/MIGUEL A. LOPES
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A afirmação categórica do treinador português a que se tem assistido nas últimas décadas tem ajudado a mudar o paradigma que marcou os primórdios do futebol nacional. Ao contrário do que aconteceu durante largos períodos do século passado, os técnicos “made in” Portugal têm vindo a tomar conta dos títulos e a consolidar a posição no mercado. O sucesso de Roger Schmidt em 2022-23 é, nesse sentido, uma excepção à regra do novo milénio e, ao mesmo tempo, a prova de que a competência não tem passaporte.

O impacto que Schmidt teve no Benfica na presente temporada chegou a ser comparado ao efeito Sven-Goran Eriksson, que em Julho de 1982 chegou a Lisboa para impor uma nova ordem no futebol português (dois títulos consecutivos) e voar alto na Europa. Salvaguardadas as diferenças, é inegável que o treinador alemão representou uma ruptura com o passado recente, com um futebol que, durante meses, entusiasmou os adeptos e insinuou conquistas. O reconhecimento chegou agora, na forma do 38.º campeonato da história das “águias”.

Dezoito anos depois, o Benfica volta a aclamar um treinador estrangeiro. Antes de Schmidt, tinha sido o italiano Giovanni Trapattoni a levar os “encarnados” ao título, em 2004-05, numa época bem menos exuberante do que a actual e num contexto financeiro mais cinzento. Pelo meio, celebraram Jorge Jesus, Rui Vitória e Bruno Lage, até que Rui Costa respondeu ao fracasso rotundo em que se transformou a segunda vida de Jesus na Luz com uma contratação fora de portas. E deu-se bem.

A conquista de Roger Schmidt acentua o domínio expressivo dos técnicos estrangeiros no palmarés do clube - é também o primeiro alemão a ser campeão nas "águias". Com o germânico, são agora 15 os treinadores nascidos fora de Portugal a ostentarem o título nacional, numa linhagem inaugurada pelo húngaro Lippo Hertzka, que se sagrou campeão em 1936-37. Seguiram-se Janos Biri, Ted Smith, Otto Glória, Bela Guttmann, Fernando Riera, Lajos Czeizler, vários deles com mais de um campeonato, mas também Elek Schwartz, Jimmy Hagan, Milorad Pavic, John Mortimore, Lajos Baroti e, lá está, Sven-Goran Eriksson.

No outro prato da balança, o dos técnicos portugueses, contam-se apenas cinco campeões, juntando-se a Jorge Jesus, Rui Vitória e Bruno Lage o incontornável Toni, referência dentro e fora do relvado na Luz (a partir do banco, sagrou-se campeão em 1988-89 e em 1993-94), e o “bombeiro” de serviço Mário Wilson, que, embora tenha assumido o comando da equipa em diferentes momentos (todos eles delicados), só em 1975-76 envergou a faixa.

Na balança dos campeonatos, o desequilíbrio também é grande, com 28 títulos nas mãos de treinadores estrangeiros e 10 com cunho português. Dessa dezena, sete foram conquistados já no presente século, mas essa não é uma tendência exclusiva do Benfica. Rúben Amorim, no Sporting, e uma mão-cheia de protagonistas no FC Porto (Sérgio Conceição, Vítor Pereira, André Villas-Boas, Jesualdo Ferreira e José Mourinho) corporizam a afirmação plena do técnico português, sendo necessário recuar até 2006 para encontrar o último vencedor da Liga nascido noutras paragens — foi o neerlandês Co Adriaanse, pelos “dragões”, mas nem chegou a iniciar a época seguinte.

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