Nenhum dos sete países da UE com F-16 está pronto para doar aviões à Ucrânia

Apesar da luz verde dos EUA, a formação de uma “coligação dos caças”, à imagem do que aconteceu com os tanques, ainda vai demorar. Para já, Estados-membros só se comprometem com a formação de pilotos.

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Josep Borrell, alto representante para a Política Externa e de Segurança da UE EPA/OLIVIER HOSLET
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Há sete Estados-membros da União Europeia com caças F-16 nas suas Forças Armadas, mas esta segunda-feira, no rescaldo da cimeira do G7 em Hiroxima, e do apoio explícito do Presidente dos Estados Unidos ao treino de pilotos ucranianos e à eventual reexportação destes aviões de guerra para a Ucrânia, nenhum deles quis abrir a porta a transferências num futuro mais próximo.

“Essa questão para já não se coloca, nem nos foi pedido pela Ucrânia”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, que no final da reunião do Conselho dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, em Bruxelas, apenas confirmou a disponibilidade de Portugal para dar formação a pilotos ucranianos – à semelhança de outros países europeus.

Embora reconhecendo que “a formação de pilotos permita antever a possibilidade de fornecimento de F-16 à Ucrânia”, a doação destas aeronaves por parte de Portugal “não está em cima da mesa”, pelo menos para já. “A expectativa é que não sejam caças nossos”, referiu Gomes Cravinho.

Portugal dispõe de 28 aviões F-16 nas suas esquadras 201 “Falcões” e 301 “Jaguares”, um “número limitado”, e que, segundo vincou o ministro dos Negócios Estrangeiros, é o indispensável para “cumprir as nossas obrigações nacionais e também no seio da NATO”.

Além de Portugal, Bélgica, Dinamarca, Grécia, Países Baixos, Polónia e Roménia têm caças F-16 nas suas frotas, mas a formação de uma “coligação dos caças”, à imagem do que aconteceu com os tanques, ainda demorará a tornar-se uma realidade: o alto representante para a Política Externa e de Segurança da UE, Josep Borrell, considerou-a uma “boa iniciativa”, mas nem os EUA, nem os Estados-membros da UE equacionam qualquer transferência de aviões para a Ucrânia a curto prazo.

“Estamos a preparar terreno para fornecer à Ucrânia os caças de que necessita. A formação de pilotos é a primeira coisa a fazer”, garantiu Borrell. “A nossa intenção é avançar com o treino o mais depressa possível”, confirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros holandês, Wopke Hoekstra, acrescentando, tal como o chefe da diplomacia europeia, que essa decisão é um primeiro passo crucial. “Se depois decidirmos enviar aviões, [os pilotos] já estarão preparados”, disse. “Mas essa é uma decisão separada e que não estamos ainda a discutir. Logo se verá o que faremos no futuro”, ressalvou.

Nesta segunda-feira, o alto representante renovou o seu apelo para o envio urgente de mais munições, mísseis e outros sistemas de defesa, para a Ucrânia “manter a sua capacidade de defender o seu território e soberania”, pedindo um “aumento do ritmo das entregas” e dramatizando que “cada dia de atraso é contado em vidas perdidas”. “Esta já não é uma questão de dinheiro, é uma questão de tempo”, sublinhou Borrell.

Apesar da oposição da Hungria, o chefe da diplomacia europeia espera conseguir avançar rapidamente com uma nova tranche de 500 milhões de euros de financiamento do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz para mais material militar para a Ucrânia. O bloqueio de Budapeste está relacionado com a inclusão do banco húngaro OTP na lista ucraniana de empresas europeias que estão a patrocinar a ofensiva russa: há outras entidades da UE nessa lista, que, segundo Gomes Cravinho, terão oportunidade de apresentar os seus argumentos às autoridades de Kiev.

“Os ucranianos submetem a sua lista à UE, e logo vemos se pode ser absorvida na sua totalidade ou se algumas empresas têm justificação para aquilo que estão a fazer”, explicou o ministro, que acredita na resolução da questão, até porque nenhum Estado-membro demonstrou uma “postura inflexível”.

O mesmo argumento é válido para o 11.º pacote de sanções da UE contra a Rússia, que tem como foco evitar a evasão ou o contorno das medidas europeias por países terceiros, e que ainda está a ser negociado pelos Estados-membros. “Há muitas matérias de pormenor que ainda estão em discussão e não cristalizaram o suficiente”, observou Gomes Cravinho, que tem esperança que o processo seja concluído antes do fim de Junho.

De acordo com várias fontes, o que os Estados-membros estão a discutir são as melhores soluções operacionais e não o princípio geral do novo pacote, cujo objectivo é “evitar que as sanções sejam ineficazes porque, em termos práticos, são contornadas”, lembrou Borrell. O alto representante deu o exemplo das exportações de automóveis europeus para a Rússia, que caiu 80% durante o ano passado. “Mas, ao mesmo tempo, aumentámos em quase 300% as exportações para os países vizinhos da Rússia. É um pouco estranho”, considerou Borrell, para quem “não é estúpido concluir que estão a importar para depois reexportar para a Rússia”.

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