Orlando Ribeiro: a formação de um cientista (entre 1911 e 1940)

Estudar a vida e obra de Orlando Ribeiro contribui para criar uma identidade profissional entre os geógrafos e permite compreender melhor as caraterísticas da geografia praticada hoje.

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Orlando Ribeiro com alunos do Colégio Infante de Sagres, em Lisboa: o professor é o terceiro na fila da esquerda Espólio do Professor Orlando Ribeiro/BNP
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Orlando Ribeiro (1911-1997) é o geógrafo português mais conhecido. Depois de se formar em Ciências Histórico-Geográficas na Universidade de Lisboa (1932), lecionou no Colégio Infante de Sagres e defendeu o primeiro doutoramento em Ciências Geográficas na Universidade de Lisboa (1936). Foi leitor na Universidade de Paris, ensinou na Universidade de Coimbra e foi nomeado catedrático na universidade em que se formou (1943). Fundou um importante Centro de Estudos Geográficos, publicou o clássico Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico (1945) e organizou o Congresso Internacional de Geografia de Lisboa (1949), que o levou a ser vice-presidente da União Geográfica Internacional.

Estudar a vida e obra de Orlando Ribeiro é importante, pois contribui para criar uma identidade profissional entre os geógrafos e permite compreender melhor as caraterísticas da geografia praticada atualmente.

Nesta tese sobre a formação de Orlando Ribeiro, em história da ciência, aborda-se, entre outras atividades, o desempenho profissional e pedagógico do geógrafo como professor liceal no Colégio Infante de Sagres.

Esta escola foi fundada em Lisboa, em 1928, destacando a pedagogia moderna, pondo a ênfase na prática da educação física, no trabalho em equipa e na relação com a vida ativa. A instituição teve como professores, entre outros, o escritor Avelino Cunhal (1877-1966) e o fundador da Universidade Popular, Ferreira de Macedo (1887-1959). De entre os alunos do colégio, destacaram-se Carlos de Azevedo (1918-1974), historiador de arte, e Tomás Ribas (1918-1999), escritor e tradutor.

A docência foi a primeira atividade remunerada que Orlando Ribeiro abraçou (entre 1933 e 1936). O colégio recebeu um docente dinâmico e inovador, fornecendo-lhe a formação prática para se tornar professor, profissão que exerceu por mais de 40 anos.

Manuel Silva Leal (1881-1962), o diretor do colégio, o filósofo Agostinho da Silva (1906-1994), também professor no colégio, Maria Montessori (1870-1952) e Pestalozzi (1746-1827) são os pedagogos mais influentes na carreira de Orlando Ribeiro. Enfatizam o papel do contacto com a natureza, do trabalho de campo, o fortalecimento das capacidades dos estudantes e o desenvolvimento integral do ser humano.

A docência liceal de Orlando Ribeiro foi fundamental na sua formação por ser através dela que desenvolveu a capacidade de falar em público, facilitando a defesa do doutoramento; estabeleceu a visão integradora da geografia devido às variadas matérias que ensinou (história, geografia e língua portuguesa); aprendeu a comentar paisagens, a relacionar-se com alunos e colegas e a preparar aulas e visitas de estudo.

Esta experiência foi decisiva para a carreira de Orlando Ribeiro também porque este optou por não efetuar formação pedagógica formal (cadeiras pedagógicas e estágio). Era um processo longo para o qual não possuía tempo e vontade dado estar a investigar para o doutoramento e pretender concluir a sua formação no estrangeiro.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico


Estudante de doutoramento no Centro Interuniversitário de História da Ciência e da Tecnologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

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