Olá, Albertina. A inteligência artificial vai tomar o lugar do humano?

Foi lançado novo modelo de linguagem em português, mas poderá a IA substituir a criatividade humana? Este é o tema do primeiro episódio de Perguntar Futuro, o novo videocast do PÚBLICO.

Foto
"A criatividade humana está ou não ameaçada pela inteligência artificial?" - a questão marca o arranque de Perguntar Futuro, o novo videocast do PÚBLICO. Reuters/DADO RUVIC
Ouça este artigo
--:--
--:--

No admirável novo mundo da inteligência artificial, que leva décadas de vida entre nós, surgiu um novo modelo de linguagem em português, variante europeia: a Albertina. Resultado da investigação de equipas da academia do Porto e de Lisboa, este gerador de texto foi lançado na sexta-feira e preenche uma vaga que não tinha sido ainda coberta pela febre dos chatbots como o famoso ChatGPT, que chegou no final de 2022. Na discussão sobre se a inteligência artificial (IA) pode ser autónoma da criatividade humana, a verificação de factos ainda faz pender a balança para a espécie do género Homo que vive na Terra. Essa discussão é o mote do primeiro episódio do novo videocast do Público, Perguntar Futuro, que hoje é emitido.

Da união de esforços de equipas de investigação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) e da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), nasceu o Albertina, um gerador de texto.

“O Bert, que é um modelo de deep learning, nasceu em 2018, se não estou em erro. É um modelo inglês, que conseguiu ‘comer’ texto de um leque mais variado de línguas. Depois, vários países começaram a tentar fazer modelos a partir daí nas suas línguas, com derivações do nome original. Há o Camembert, em França, e o Bertimbau, no Brasil”, explica Henrique Lopes Cardoso, membro da equipa que criou o Albertina, professor e investigador no Departamento de Engenharia e Informática da FEUP.

“Há duas famílias de modelos de linguagem utilizados na inteligência artificial: a encoder, da qual o mais conhecido é o Bert; e a decoder, da qual o mais conhecido na geração de texto é o GPT [que está na origem do ChatGPT]”, explica o académico.

Lançado na plataforma Hugging Face na passada sexta-feira, 12 Maio, foi descarregado até agora 33 vezes, mas o alcance deste projecto desenvolvido no âmbito do consórcio Accelerate.AI, financiado em 35 milhões de euros para o desenvolvimento de diferentes projectos ao abrigo do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), ainda mal arrancou.

“Ainda não foi divulgado, a informação sobre este projecto é ainda escassa, mas quando o Albertina chegar à comunidade do Processamento de Linguagem Natural, a mais interessada nestas matérias, terá um grande impacto”, prevê Henrique Lopes Cardoso, também membro do Laboratório de Inteligência Artificial e Ciência de Computadores da FEUP. “Há vários grupos de investigação nesta área e o que está mais em voga agora são os geradores de texto”, defende.

“Um dos problemas é construir um conjunto de dados suficientemente vasto”, uma vez que o repertório disponível é largamente em inglês. Outro problema, mais complicado, destes geradores de texto, que podem ser utilizados para criar texto em redes sociais e até para websites sem supervisão humana, é a informação ser rigorosa.

“De cada vez que um estudante meu me diz que estuda através do ChatGPT eu fico de pé atrás, porque muitos dos factos não são verificados”, admite Lopes Cardoso, que é também vice-presidente da Associação para a Inteligência Artificial. “Há uma fonte da área que fez umas contas credíveis e diz que, a cada 14 dias, o ChatGPT gera o volume de texto criado em toda a história da Humanidade”, continua. “Sendo credível, o conteúdo gerado pelos modelos de linguagem não é fidedigno. E as próximas gerações dos modelos usarão texto gerado pelas antecessoras. Imagine o grande problema para nós, humanos, pela quantidade de texto gerado”, alerta.

Perguntar Futuro, novo videocast

O primeiro episódio do novo videocast do Público, Perguntar Futuro, sai hoje, no website do PÚBLICO. O primeiro episódio da série, moderada pela apresentadora Diana Duarte, tem como convidados Paulo Dimas, líder de Inovação na start-up Unbabel, que aplica inteligência artificial à tradução, e Edson Athayde, publicitário, escritor, CEO e creative director da FCB Lisboa.

O tema toca a questão levantada neste texto sobre a Albertina: a criatividade humana está ou não ameaçada pela inteligência artificial?

Perguntar Futuro é um videocast apoiado pela SONAE (empresa proprietária do PÚBLICO) com oito episódios previstos, sobre temas determinantes do mundo e de Portugal, como a educação ou as cidades do futuro.


Temas do presente que estão a transformar o futuro: oito conversas entre o diálogo e o desafio, protagonizadas por especialistas com experiências distintas e diferentes visões sobre a educação, a banca, a energia, o entretenimento, as cidades, a saúde, a inteligência artificial, a biotecnologia. Perguntar Futuro é uma série editorial em formato de videocast produzida pelo Público, com o apoio da Sonae.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários