EUA. Deputada trans acusou republicanos de terem “sangue nas mãos” e foi impedida de falar

A democrata Zooey Zephyr declarou que negar cuidados médicos a pessoas trans “é equivalente à tortura” e que uma possível proibição, como defendem os republicanos, levaria a mais suicídios.

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Deputada trans silenciada após culpar republicanos de suicídios na comunidade Reuters/MIKE CLARK

Os republicanos da Câmara dos Representantes do Montana votaram, esta quarta-feira, para impedir que a deputada democrata transgénero Zooey Zephyr falasse durante os debates no plenário, alegando falta de decoro. A decisão surgiu depois Zephyr ter dito que os legisladores que quisessem proibir a prestação de cuidados de saúde de afirmação de género para menores trans teriam "sangue nas mãos".

Como consequência pelo comentário, e de acordo com a moção aprovada com 68 votos a favor e 32 contra, Zephyr vai ser autorizada a votar, mas está impedida de participar nos debates do plenário e de entrar na antecâmara ou na tribuna da Câmara dos Representantes durante o resto da sessão legislativa, que deverá terminar a 10 de Maio.

A discórdia —​ que captou a atenção nacional devido ao extremar de posições nos EUA em torno de questões como os direitos da comunidade transgénero —​ tem vindo a fermentar desde o debate de 18 de Abril, sobre um projecto de lei do Senado que procura proibir o acesso a tratamentos a menores transgénero que incluem a administração de medicamentos para adiar a puberdade e tratamentos hormonais.

Durante o debate Zooey declarou que negar cuidados de saúde à comunidade transgénero era o "equivalente à tortura" EUTERS/Mike Clark
Em resposta, os republicanos silenciaram a deputada no hemiciclo EUTERS/Mike Clark
A deputada apontou o microfone aos seus apoiantes e recusou-se a sair EUTERS/Mike Clark
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Durante o debate Zooey declarou que negar cuidados de saúde à comunidade transgénero era o "equivalente à tortura" EUTERS/Mike Clark

Os factos que levaram à moção remontam a segunda-feira, durante um debate, quando Zephyr declarou que negar cuidados de saúde de afirmação de género era "equivalente à tortura" e que uma possível proibição levaria a um aumento dos suicídios na comunidade trans. "Se votarem a favor deste projecto de lei e destas alterações, espero que da próxima vez que houver uma invocação, quando inclinarem a cabeça em oração, vejam o sangue nas vossas mãos", afirmou a deputada.

Em resposta, a maioria republicana silenciou-a no hemiciclo, instando-a a pedir desculpa, o que desencadeou um protesto por parte dos apoiantes de Zephyr.

Os manifestantes na bancada chegaram mesmo a interromper a sessão, pedindo que a deixassem falar. Porém, o presidente da Câmara dos Representantes ordenou que os legisladores abandonassem a sala. A deputada não cedeu e, em vez de sair, apontou o microfone aos apoiantes. Em consequência, sete manifestantes foram detidos e os republicanos concentraram atenções na colega, com o ultraconservador Freedom Caucus a pedir que Zephyr seja punida.

A líder da maioria, Sue Vinton, que apresentou a moção, sublinhou a necessidade de decoro para que os direitos de todos os representantes sejam protegidos. "Na segunda-feira, este órgão testemunhou uma conduta por parte de um dos seus membros que interrompeu e perturbou os procedimentos. Esta parlamentar não acedeu à ordem presidente da Câmara dos Representantes", afirmou.

Na quarta-feira, a deputada manteve a mesma postura desafiadora e reforçou que o comentário sobre os republicanos terem "sangue nas mãos" não era "hiperbólico".

"Quando o presidente da Câmara dos Representantes me pede para pedir desculpa em nome do decoro, o que me está realmente a pedir é para ficar em silêncio enquanto a minha comunidade enfrenta projectos de lei que nos matam", destacou. "Ele está a pedir-me que seja cúmplice da erradicação da nossa comunidade por parte desta legislatura. E recuso-me a fazê-lo”, acrescentou.

O Partido Democrata, a União Americana pelas Liberdades Civis e os defensores da comunidade LGBTQ+ consideraram a censura à deputada como antidemocrática.

Um pouco por todo o país, os republicanos têm tentado proibir o acesso a certos cuidados de saúde para os jovens transgénero. Segundo um grupo de jornalistas independentes, foram apresentados mais de 500 projectos de lei que, alegadamente, violariam os direitos das pessoas trans e não-binárias.

Estes projectos de lei querem regulamentar balneários e desportos femininos, mas também incluem a limitação do acesso aos cuidados de saúde para adultos transgénero e, em alguns casos, procuram acusar os pais e os médicos de abuso de menores caso lhes proporcionem esses tratamentos.

Os opositores a este tipo de tratamento não acreditam nas principais associações médicas, que apoiam a prestação de cuidados médicos de afirmação do género, o que pode causar problemas no acesso a este tipo de cuidados por parte de menores — o tipo de decisões que lhes mudam a vida.

No início deste mês, uma situação semelhante numa assembleia do Tennessee levou a maioria republicana a expulsar dois deputados democratas que tinham protestado a favor do controlo das armas, outra acção que chamou a atenção nacional. Foram rapidamente reconduzidos aos lugares, mas conseguiram uma visita à Casa Branca.

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