Educação à prova de ChatGPT: colaboração, comunicação e criatividade

Alguns pedagogos têm sugerido os quatro “C” — pensamento crítico, colaboração, comunicação e criatividade — como base para uma reforma na escola.

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Educação à prova de ChatGPT: colaboração, comunicação e criatividade Rui Gaudencio

Os últimos meses têm sido revolucionários na área da Inteligência Artificial (IA). Empresas como a OpenAI foram responsáveis por progressos significativos na criação de imagens e texto gerados por computador de acordo com o input do utilizador. O leitor já deve ter ouvido falar no ChatGPT, o mais recente chatbot baseado em IA que é capaz de completar uma ampla variedade de tarefas — passar em exames de direito ou medicina, escrever programas de computador ou mesmo redigir artigos completos baseados numa ideia ou tópico.

As reacções a esta nova tecnologia por parte dos sistemas de ensino têm sido controversas. Enquanto alguns professores são a favor da utilização deste tipo de ferramentas, outros proíbem por completo o seu uso. Quer se seja favorável ou não à utilização da IA na sala de aula, a sua presença é incontornável. O mesmo sistema de ensino que há 50 anos preparava os estudantes para o futuro, não está hoje adaptado à acessibilidade de informação e ao ritmo de mudança criado por estes algoritmos.

Há 50 anos, ou seja, na era pré-internet, a memorização de informação era uma competência essencial. Isto porque a informação era escassa e de difícil acesso. Actualmente, é mais importante saber distinguir a informação de qualidade da restante (1). O ChatGPT vem aumentar esta necessidade. Ao ser capaz de estabelecer relações complexas baseadas em informações de múltiplas fontes, o chat pode poupar-nos horas de pesquisa. Ao mesmo tempo, e como tem vindo a ser criticado, muitas vezes este dá-nos informações imperfeitas ou mesmo incorrectas. Por outro lado, o desenvolvimento destas ferramentas adiciona uma incerteza constante ao mercado de trabalho (1). É expectável que algumas profissões desapareçam e outras sejam criadas a um ritmo ao qual não estamos habituados.

Há 50 anos, alguém que iniciasse a sua carreira como professor, advogado ou escritor, poderia esperar desempenhar esta função de uma forma idêntica durante toda a sua vida activa. Hoje, estas tecnologias podem vir a assistir ou substituir alguns destes profissionais, pelo que a capacidade de adaptação à mudança e a aprendizagem contínua se tornam mais relevantes do que a facilidade com que se resolvem questões seguindo uma sequência de fórmulas ou métodos.

A escola está, portanto, desactualizada para responder às necessidades do futuro. A questão que se coloca é: como desenhar um sistema de ensino que prepare as próximas gerações para um futuro que hoje dificilmente conseguimos imaginar, dada a rapidez com que as mudanças se operam? Alguns pedagogos têm sugerido os quatro “C” — pensamento crítico, colaboração, comunicação e criatividade — como base para uma reforma na escola (1). Estas competências revelam-se mais importantes para o futuro, que se adivinha incerto e volátil, do que a capacidade de memorização ou o pensamento lógico, sobrevalorizados no sistema actual.

Num futuro em que a informação é abundante e as máquinas são capazes de resolver os problemas com solução conhecida, com os quais nos deparamos no dia-a-dia, aqueles que souberem distinguir o que é essencial e usar a sua curiosidade e criatividade unicamente humanas irão prosperar, alavancados em vez de substituídos pelos sistemas inteligentes.


Referência bibliográfica:

  • Noah Harari, Yuval. 21 Lições para o Século XXI. 7.ª Edição. ELSINORE. 2021.
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