Aos 106 anos, Apo Whang-Od é a mulher mais velha de sempre na capa da Vogue

A mulher filipina está na capa da revista Vogue Filipinas de Abril, onde conta a história não só da sua vida, como da técnica ancestral da província de Kalunga.

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Apo Whang-Od celebrou 106 anos em Fevereiro TWITTER/VOGUE PHILIPPINES

Apo Whang-Od tem 106 anos e é a mais antiga tatuadora filipina. É também a mulher mais velha de sempre a protagonizar a capa de uma revista Vogue. As fotografias têm feito sucesso nas redes sociais, mas são as batok, as tatuagens tradicionais das Filipinas, que Apo quer dar a conhecer ao mundo, mais do que a sua história de vida.

A filipina de 106 anos, celebrados em Fevereiro, é uma das poucas mulheres indígenas a aparecer na capa de uma Vogue. Quannah Chasinghorse protagonizou a Vogue México, em Maio de 2021; e, no ano seguinte, a edição da Vogue Austrália contou com quatro mulheres indígenas.

Apo Whang-Od surge na capa imaculadamente maquilhada e com uma vivacidade invejável para a idade. Em destaque, claro, estão as suas tatuagens. Quando tinha 16 anos aprendeu o ofício com o pai e tornou-se a primeira mulher a tatuar as tradicionais batok. Então, viajava por toda a província de Kalunga para ajudar a tatuar as comunidades com os símbolos sagrados dos seus antepassados.

Para os homens da tribo, ser tatuado significava o primeiro passo para se tornarem guerreiros de "caça-cabeças" — uma prática ancestral em que se guardavam as cabeças dos inimigos depois de mortos. Já para as mulheres, a tatuagem era uma forma de evocar a fertilidade e a beleza, explica a reportagem da Vogue Filipinas. Apo Whang-Od tatuou sobretudo mulheres, porque a prática de guerrilha foi banida do país no início do século XX.

Há 100 anos, as mulheres que não eram tatuadas eram consideradas imperfeitas, mas não demorou até que a situação se invertesse. Quando os americanos chegaram àquela região, obrigaram as jovens a tapar os braços com mangas compridas, para poderem frequentar as escolas. Por isso, ser tatuada tornou-se um motivo de vergonha.

Entre os habitantes da província e os membros da tribo, a prática foi caindo em desuso, mas ganharia fama internacional, o que ajudou a recuperar o ofício, tornando-o uma forma de arte. Os mambabatok, como se chamam os tatuadores, só conseguem passar a sua arte através da gravação no corpo, que se faz com recurso a um pau de bambu com um espinho na ponta.

Apo Whang-Od tem uma técnica de assinatura. Pica a pele cem vezes por minuto até criar três pontos repletos de tinta (e sangue). Apesar de arriscarem uma infecção, que não será grave, assegura-se, há quem viaje de todo o mundo para ser tatuado pelas mãos da centenária. São necessários apenas cinco minutos para completar a obra, mas quem é tatuado garante que a dor é “muito superior” à de uma enorme tatuagem ocidental.

Antigamente, o momento de tatuar era acompanhado de alguns rituais, como cantos tradicionais e o sacrifício de uma galinha. Hoje, o processo é bem mais recatado, seja feito por Apo Whang-Od ou por uma das suas aprendizes. “Fui a primeira criança a aprender a tatuar Só observei o que ela [Apo] fazia”, conta Grace, de 26 anos, sobrinha-neta da tatuadora. Quando Grace foi para a faculdade em 2015, a tia-avó ensinou outra jovem, Elyang.

Actualmente são três mulheres a tatuar — Apo e as suas duas pupilas — mas, contam, ter dificuldade em conseguir responder a todos os turistas que as procuram. Os três pontos de assinatura de Whang-Od representam as três artistas e espera-se que, em breve, se acrescentem mais. Será sinal de que a mulher de 106 anos cumpriu a sua missão de vida.

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