Duas mulheres morreram no ataque no Centro Ismailita em Lisboa. Suspeito alvejado

Duas mulheres foram mortas no Centro Ismaili na Avenida Lusíada, em Lisboa. Agentes da PSP abriram fogo, “atingindo e neutralizando o agressor” que foi levado para o hospital.

policia,islao,muculmanos,sociedade,lisboa,europa,
Fotogaleria
PSP efectuou disparos para travar ataque Rui Gaudencio
policia,islao,muculmanos,sociedade,lisboa,europa,
Fotogaleria
Morreram duas pessoas Rui Gaudencio
policia,islao,muculmanos,sociedade,lisboa,europa,
Fotogaleria
Ataque aconteceu em Lisboa Centro Ismaili na Avenida Lusíada, em Lisboa. Rui Gaudencio
policia,islao,muculmanos,sociedade,lisboa,europa,
Fotogaleria
Suspeito foi detido e está internado Rui Gaudencio

Duas mulheres de aproximadamente 20 e 40 anos morreram e outras duas pessoas foram feridas no ataque à facada no Centro Ismaili, na Avenida Lusíada, em Lisboa, esta terça-feira. Houve disparos durante a intervenção policial e o atacante foi levado para o Hospital de São José, onde foi sujeito a uma cirurgia, que demorou quase quatro horas, devido a ferimentos nos membros inferiores. Neste momento está estável.

Um dos feridos ligeiros, professor de Português, com cortes no tórax e pescoço, foi assistido no Hospital de Santa Maria e teve alta ao início da noite.

PÚBLICO -
Aumentar

Ao que o PÚBLICO apurou junto de fontes policiais, o homem será refugiado e viúvo — a mulher faleceu num campo de refugiados em circunstâncias muito difíceis —, tendo chegado a Portugal, vindo da Grécia, há pouco mais de um ano, com três filhos menores. Estava a viver na zona de Odivelas e deslocava-se com frequência ao Centro Ismaili, onde recebia apoio e recebia formação. O centro presta apoio à comunidade de refugiados em Portugal.

Segundo o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, o suspeito era um cidadão com uma vida “bastante tranquila” e “não tinha qualquer sinalização que justificasse cuidados de segurança”. O governante confirmou que o homem, ainda “jovem”, tem três filhos menores, de nove, sete e quatro anos, e perdeu a mulher na Grécia.

São para já desconhecidos os motivos que levaram a este ataque. Sabe-se apenas que o homem teria problemas psicológicos, já tinha tido acompanhamento médico e teria tentado ir para a Alemanha mas não conseguiu autorização.

i-video

Duas mulheres foram mortas no Centro Ismaili na Avenida Lusíada. O alegado atacante foi detido pela PSP.

Reuters,Joana Bourgard

A investigação passou para a Unidade Nacional Contraterrorismo (UNCT) da PJ, que se dirigiu ao local. O próprio director nacional da PJ, Luís Neves, também chegou a deslocar-se ao Centro.

Em comunicado enviado às redacções, a PSP dá conta de que os agentes envolvidos no caso abriram fogo, “atingindo e neutralizando o agressor”. “O atacante foi socorrido e conduzido a unidade hospitalar, encontrando-se vivo, detido e sob a nossa custódia”, explica a força policial.

A meio da manhã, a PSP foi informada de que estava a decorrer um ataque com arma branca no Centro Ismaili. Quando chegaram ao local, os agentes “depararam-se com um homem armado com uma faca de grandes dimensões”. De acordo com aquela força policial, foram dadas ordens ao agressor para que cessasse o ataque. O homem, no entanto, avançou na direcção dos polícias.

Fonte do Hospital de Santa Maria confirma, ao PÚBLICO, a entrada de um ferido ligeiro, um jovem adulto (o professor de Português atacado) que chegou por meios próprios com um corte no tórax e outro no pescoço e que teve alta ao início da noite. Já fonte do Hospital de São José confirma a entrada de um ferido do sexo masculino em estado grave, o suspeito das agressões.

​Neste momento, a polícia está a tapar o local para que não haja visibilidade do exterior, isto depois de um carro do INEM ter entrado no centro ismailita de Lisboa. Há cinco polícias a guardar a porta e vários membros da PJ a transitar entre o local do ataque e o interior do edifício. Do lado de fora, para lá da linha da polícia, só jornalistas esperam por mais informação. Há três carrinhas da polícia e vários carros estacionados ao longo da estrada.

“A PSP apela à serenidade e tranquilidade de todos os nossos concidadãos, tendo mobilizado os efectivos necessários para a implementação das medidas de segurança adequadas e urgentes”, pode ainda ler-se no mesmo comunicado. O INEM accionou, a pedido da PSP, uma equipa de psicólogos, que já chegaram ao local, onde permanecem agentes da PSP a guardar a porta e vários membros da Polícia Judiciária. Os familiares continuam a chegar e a entrar no edifício, encaminhados pela polícia.

Nas redes sociais, a PSP pede “a todas as pessoas que não se desloquem para esta zona da cidade, devido à operação policial em curso”.

O líder da comunidade ismailita, Nazim Ahmad, confirmou, em declarações à SIC, que o agressor é afegão e que as vítimas do ataque são mulheres de nacionalidade portuguesa, com 20 e 40 anos, aproximadamente, funcionárias do centro onde decorreu o ataque.

Primeiro-ministro expressa “solidariedade e pesar”

O primeiro-ministro, António Costa, expressou “solidariedade e pesar” com a comunidade ismailita e famílias das vítimas, registando também a rápida intervenção da PSP.

"Permitiu a detenção do suspeito que está, neste momento, a receber cuidados médicos. É prematuro fazer qualquer interpretação sobre as motivações deste acto criminoso, mas devemos aguardar com segurança que as autoridades procedam às necessárias investigações”, explicou o primeiro-ministro.

Entretanto, já vários partidos reagiram: Luís Montenegro, presidente do PSD, por sua vez, considerou o ataque “um crime hediondo que a justiça deve punir exemplarmente”. Manifestou “solidariedade e pesar às famílias” e ao centro, deixando também um “cumprimento” à PSP “pela rápida e eficaz intervenção”.

Pelo Bloco de Esquerda, Catarina Martins sinalizou que os bloquistas estão “perplexos com a notícia” e condenou “veementemente o duplo assassinato” a um centro “que desenvolve um trabalho imprescindível no acolhimento a refugiados”. A coordenadora do partido enviou ainda “sentidas condolências à família das vítimas e a toda a comunidade ismailita”, no Twitter.

Rui Tavares, do Livre, realçou igualmente o “trabalho ímpar humanitário, social e filantrópico” do Centro Ismaili de Lisboa, mostrando-se de “alma e coração com a comunidade ismailita portuguesa” e solidário “para o que for necessário no apoio às vítimas”.

Sede mundial da comunidade ismailita em Lisboa

O Centro Ismaili de Lisboa, nas Laranjeiras, é a sede mundial da comunidade ismailita, uma minoria muçulmana xiita liderada pelo príncipe Aga Khan.

A participação nas actividades e nas estruturas internas tem um objectivo: pôr em prática as orientações de Aga Khan IV, o líder religioso da comunidade espalhada por 25 países e que encabeça uma rede de instituições financeiras, empresariais e de ajuda ao desenvolvimento.

O aristocrata, nascido na Suíça, com passaporte britânico e licenciado em Harvard, regula quase todos os aspectos da vida da comunidade. Karim Al Hussaini, que usa o título hereditário persa de Aga Khan, é o 49.º líder religioso, sucedendo ao avô. E os ismailitas fazem-lhe um juramento de fidelidade e lealdade.

Aga Khan é o imã do tempo, a quem cabe interpretar o Corão, adequando a sua mensagem aos tempos actuais. Mas é também o responsável por melhorar a vida e garantir o bem-estar da sua comunidade e dos países por onde ela se espalha.

Na base de toda a organização ismailita está uma Constituição própria, aprovada em 1986. Ali são definidos aspectos religiosos, de obediência ao príncipe e às várias instituições que dão corpo à comunidade, com conselhos nacionais ou regionais e até um sistema de arbitragem e resolução de conflitos, que é alternativo aos tribunais. Contudo, e em primeiro lugar, os ismailitas têm de obedecer à Constituição dos países onde vivem.

Os fiéis portugueses são dirigidos por um conselho nacional, uma espécie de governo interno, escolhido de três em três anos para pôr em prática as indicações do líder.

Sugerir correcção
Ler 117 comentários