Nunca houve reviravolta na Liga com dez pontos de diferença a nove jornadas do fim

FC Porto precisa de máquina do tempo para ultrapassar o Benfica e sonhar com revalidação do título.

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Galeno e António Silva no clássico FC Porto-Benfica EPA/ESTELA SILVA

Com o empate de Braga, o FC Porto ficou a 10 pontos do Benfica, dois dígitos que separam os portistas da revalidação cada vez mais improvável do título de campeão, o que, não constituindo uma impossibilidade matemática (há 27 pontos em jogo), desafia a própria história da competição, onde nunca houve um volte-face desta magnitude. Apenas uns casos aproximados, mas em circunstâncias e em quadros competitivos absurdamente diferentes.

O evento é de tal forma raro que num cenário semelhante ao actual – de 34 jornadas com a vitória a garantir três pontos –, só por uma vez o campeão não liderava a nove jornadas do fim. E para encontrar este exemplo é preciso recuar ao final do século passado, quando o Sporting de Augusto Inácio destronou o pentacampeão FC Porto. Uma recuperação de seis pontos em nove rondas que deixou os “leões” na frente da Liga com quatro de vantagem.

Nada, portanto, que se compare à tarefa que espera os “dragões” até ao final do campeonato.

Mas esta até nem foi a última “reviravolta” em pontas finais de Liga. Essa verificou-se há precisamente dez anos, quando o FC Porto de Vítor Pereira deu a volta ao Benfica depois de uma impressionante caminhada de braço dado entre a quinta e a 21 jornada, altura em que (a nove rondas do fim, numa Liga de 30) os “azuis e brancos” empataram em Alvalade e as “águias” se isolaram no topo com uma margem de dois pontos.

Vantagem que chegou a ser de quatro pontos a três "etapas" do fim, com o Benfica a festejar na Madeira… antes do tempo, antes de empatar com o Estoril, na Luz, e de perder no Dragão com o golo decisivo de Kelvin (90+2’).

Descontando estas duas excepções, que confirmam a regra de não haver muitos campeões de última hora, temos de entrar na máquina do tempo e viajar até 1985/86, dez anos antes de as vitórias deixarem de valer dois pontos, para encontrar novo exemplo. Mais uma vez com o FC Porto a surpreender o Benfica, recuperando quatro pontos (equivalente a seis no actual panorama) em nove jornadas.

Na realidade, nada de verdadeiramente transcendente atendendo ao quadro actual e quando comparado com o que agora se exige ao campeão nacional. E nem a década de 70, quando o FC Porto lançou as sementes de um período hegemónico, apresenta registos muito diferentes, ainda que tenha havido três volte-faces: dois a favor do Sporting e um do FC Porto. Mais uma vez, por números que hoje não serviriam os propósitos da equipa de Sérgio Conceição.

O exemplo que mais se aproxima dos dois dígitos verificou-se há mais de meio século, com o Benfica a puxar o tapete ao Sporting num campeonato de 26 jornadas. Os “encarnados” transformaram uma desvantagem de dois pontos numa vantagem de quatro, recuperando seis que hoje equivaleriam a 9 pontos (três vitórias).

De novo, curto para este FC Porto, que ainda tem de jogar na Luz, onde precisa vencer por margem que lhe garanta vantagem nos critérios de desempate do regulamento de competições da Liga. Caso contrário, teria de obter mais 11 pontos que o rival para revalidar o título.

Obviamente, há registos que provam ser possível somar até 13 pontos nas últimas nove partidas. E nem é preciso ir ao fundo do baú para encontrar a prova do que afirmamos. Em 2010/11, o FC Porto de André Villas-Boas encomendou as faixas a cinco jornadas do fim, terminando a campanha com 21 pontos de vantagem sobre o Benfica, diferença que era já de oito pontos a nove rondas do fim. A diferença, neste caso, reside num facto relevante.

Os “azuis e brancos” não tiveram de recuperar de uma desvantagem, tendo apenas mantido o ritmo imparável (três empates em 30 jornadas) e beneficiado da quebra/desânimo do rival, que se afundou com a meta à vista. Cenário inverso - com um Benfica quase infalível - ao que o FC Porto tem consciência poder vir a enfrentar este ano. Algo que poderia resultar dramático, face ao objectivo alternativo da luta pelo segundo lugar, de acesso directo à Champions.

Para concluir, sabendo que a esperança é a última a morrer, o FC Porto poderá extrapolar a época de 1943/44, conquistada pelo Sporting, num campeonato reduzido, de 18 jornadas, liderado pelo Belenenses, com um ponto de vantagem sobre os “leões”… a meio da temporada: precisamente 9 rondas.

A equipa do Restelo, que chegaria ao título dois anos depois, afundou-se numa segunda volta em que o Sporting só empatou um jogo (2-2, com o Atlético), deixando o Belenenses (caiu para 6.º) a dez pontos.

Naturalmente, as ilusões não são muitas, mesmo tendo sido o FC Porto o primeiro a vencer um título (1934/35) decidido por troca de cadeiras nas últimas 9 de 14 jornadas, exemplo que praticamente 90 anos depois está totalmente desfasado da realidade.

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