UBS compra Credit Suisse para evitar crise no sistema financeiro mundial

Aquisição, negociada durante os últimos dois dias para tentar acalmar os mercados, será feita por 3000 milhões de francos suíços e envolve uma garantia pública de 9000 milhões

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Credit Suisse vai ser adquirido pelo UBS EPA/MICHAEL BUHOLZER

Fazendo regressar as memórias da crise financeira internacional de 2008, em que as autoridades de vários países procuravam, numa corrida contra o tempo e contra os mercados, soluções de emergência para bancos em colapso, a Suíça viu este fim-de-semana o seu maior banco a comprar o segundo, o histórico Credit Suisse, para evitar que este entrasse em falência com efeitos de contágio para o resto da banca mundial.

Foi ao final da tarde de domingo, a poucas horas da reabertura dos mercados accionistas e depois de dois dias de intensas negociações, que foi anunciado o negócio. O UBS vai adquirir o Credit Suisse por um valor de 3000 milhões de francos suíços (cerca de 3030 milhões de euros).

O histórico banco suíço, nascido há 167 anos e com uma presença global principalmente na área da banca de investimento, tem registado nos últimos anos prejuízos avultados, escândalos de gestão e perda de clientes, com as suas acções numa trajectória descendente que se acentuou esta semana, a partir do momento em que um dos seus principais accionistas, o Banco Nacional da Arábia Saudita, anunciou que não seria mais capaz de reforçar o capital da instituição.

O banco central suíço respondeu inicialmente disponibilizando uma linha de crédito ao Credit Suisse de mais de 50 mil milhões de euros, mas a partir de sexta-feira – e numa altura em que a ameaça de uma nova crise financeira internacional paira sobre os mercados –, tornou-se evidente que a solução teria de ser bastante mais radical.

A forma mais rápida encontrada pelas autoridades suíças para restabelecer a estabilidade no seu sistema financeiro foi pôr o maior banco, com resultados muito mais favoráveis ao longo dos últimos anos e visto como muito mais seguro e estável pelos mercados, a comprar o Credit Suisse.

À partida, foi noticiado, nem um banco nem o outro queriam a operação. Do lado do Credit Suisse, os seus accionistas tentavam fugir ao inevitável, perderem a grande parte do seu investimento. Do lado do UBS, a preocupação estava no risco que ia ser assumido ao absorver um activo como o Credit Suisse.

As negociações envolveram propostas e contrapropostas - o Financial Times noticiou que a primeira proposta de compra feita pelo UBS estava próxima dos 1000 milhões de dólares (cerca de 930 milhões de euros) -, e as autoridades, para garantir um acordo durante o fim-de-semana, exerceram pressão, mas tiveram também de assumir o seu risco financeiro.

A compra do Credit Suisse pelo UBS, feita por 3000 milhões de francos suíços (cerca de 3030 milhões de euros) fica ainda consideravelmente abaixo do valor de mercado do banco. Para além disso, revelaram as autoridades reguladoras suíças este domingo, o negócio inclui a disponibilização pelo banco central suíço de liquidez extraordinária aos dois bancos envolvidos de 100 mil milhões de francos suíços (cerca de 101 mil milhões de euros).

O Tesouro também assume, ao estilo do que aconteceu em Portugal no caso da venda do Novo Banco (antigo BES), a emissão de garantias públicas no valor de 9000 milhões de francos suíços (cerca de 9100 milhões de euros) que serão executadas de acordo com as perdas registadas no futuro nos activos agora adquiridos pelo UBS.

Os primeiros 5000 milhões de francos suíços de perdas encontrados serão assumidos pelo UBS, os 9000 milhões seguintes reembolsados pelo Estado e, a partir desse montante, volta a ser o USB a ter de lidar com as perdas.

Na conferência de imprensa em que anunciou a operação, o regulador financeiro suíço FINMA disse que havia o risco de o Credit Suisse se tornar “ilíquido, mesmo que continuasse solvente, tornando-se necessária a acção das autoridades”. Já os responsáveis do banco central defenderam que “foi encontrada uma solução para proteger a estabilidade financeira e proteger a economia suíça de uma situação excepcional”.

Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, talvez aliviada com a diminuição do risco de contágio para a zona euro, também emitiu um comunicado afirmando que as acções das autoridades suíças são “imprescindíveis para garantir a estabilidade financeira” e garantindo que “o sector bancário da zona euro é resiliente”.

Os dois grandes bancos suíços viviam actualmente circunstâncias muito diferentes. Enquanto o UBS registou, em 2022, um lucro de cerca de 7,1 mil milhões de euros, o Credit Suisse apresentou prejuízos da mesma dimensão. Os activos do UBS são de quase o dobro dos do Credit Suisse e o seu valor em bolsa quase oito vezes maior.

Os dois juntos vão agora ocupar um lugar de ainda maior destaque no sistema financeiro mundial, nomeadamente no que diz respeito à banca de investimento.

O Credit Suisse conta neste momento com cerca de 50 mil trabalhadores, não sendo claro se, na sequência desta operação, não haverá lugar a uma redução do número de postos de trabalho.

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