Sonae: “Repudiamos totalmente as acusações de que estamos a especular nos preços”

Fixação de preços pode contribuir para ter prateleiras vazias, avisa Cláudia Azevedo. Grupo descarta que a inflação esteja a ser provocada pela distribuição.

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Cláudia Azevedo está a apresentar os resultados anuais Jose Sergio / PUBLICO

A Sonae descartou esta quinta-feira responsabilidades na subida de preços. "A inflação não está a ser criada pela distribuição. Repudiamos totalmente as acusações de que estamos a especular nos preços para prejudicar os consumidores", afirmou João Dolores, administrador financeiro do grupo.

Destacando que a inflação é uma situação muito negativa para as famílias, que estão a reduzir o consumo, João Dolores procurou deixar alguns números que justificam a subida de preços, parte da qual "amortecida" pelo grupo (proprietário do PÚBLICO), que viu a margem de lucro do retalho alimentar no último ano cair de 3% para 2,7%.

Também Cláudia Azevedo, presidente executiva da Sonae referiu que o crescimento da Sonae se explica pelo forte investimento, que ascendeu a 1200 milhões de euros no ano passado. "Empresas que não crescem são empresas que desaparecem", defendeu esta quinta-feira a presidente executiva (CEO) da Sonae, na sessão de apresentação de contas do grupo.

"A Sonae cresce, tem que crescer com este brutal investimento", afirmou.

Em relação à contribuição extraordinária a aplicar sobre os lucros da distribuição, no âmbito dos alegados lucros excessivos, o administrador financeiro (CFO) garante que corresponderá a "um montante marginal face aos impostos que o grupo paga ao Estado", adiantando que o valor não está apurado. Ainda sobre este imposto, a cobrar pela primeira vez aos grandes operadores do sector, o CFO referiu que a Sonae "não conhece o que são lucros excedentários", num grupo que, nos últimos quatro anos, abriu mais de 200 lojas, investiu mais de 800 milhões de euros e criou mais de cinco mil empregos.

Para Cláudia Azevedo, trata-se de "um imposto ao crescimento", que só tem paralelo na Hungria, um país ao qual, disse, "Portugal não deveria querer equiparar-se". Em causa a contribuição extraordinária de 33% sobre aumentos de lucros em 2022 acima de determinado patamar.

Relativamente à possibilidade de fixação de preços, Cláudia Azevedo considerou que não é solução, quando muito pode contribuir "para ter prateleiras vazias nos supermercados, e isso ninguém quer". "Tentar fixar preços dá sempre mau resultado", acrescentou ainda, lembrando que o mercado é aberto e concorrencial.

Classificando de "um pouco estranha a procura desenfreada por culpados", a CEO da Sonae, que terminou o primeiro mandato de quatro anos no cargo, referiu que "se tivesse que procurar algum culpado pela elevada inflação que se verifica seria, talvez, o presidente da Rússia, a China ou a seca".

Em alternativa, defende que o Governo deve actuar ao nível dos apoios às famílias e aos produtores, rejeitando que estes últimos devam ser culpabilizados. "Pelo contrário, devem ser ajudados", disse.

Questionada sobre eventuais resultados das inspecções recentemente realizadas pela ASAE, a gestora disse estar tranquila, adiantando que há uma permanente auditoria interna aos preços praticados.

Ainda relativamente ao valor da inflação, João Dolores procurou “desmistificar” uma polémica que tem assentado “em informação errada e com acusações que não têm adesão à realidade”. Recorrendo ao aumento de preços de vários factores de produção, desde a energia às sementes ou aos fertilizantes, o CFO referiu que uma das explicações para os preços dos bens alimentares ainda não terem descido prende-se com o facto de "hoje se estar a vender produtos cujos custos foram integrados há mais de um ano".

Esta quinta-feira, a Sonae apresentou resultados anuais, com o resultado líquido da unidade de retalho alimentar Modelo Continente a diminuir 17,8% em 2022, para 179 milhões de euros. Já o volume de negócios atingiu cerca de seis mil milhões de euros, um crescimento de 11,5% face ao período homólogo.

As receitas consolidadas da Sonae atingiram 7,7 mil milhões de euros, mais 10,9% em termos homólogos. As vendas online agregadas cresceram 17%, superando 700 milhões de euros, “demonstrando o sucesso da aposta no digital”. O resultado líquido atribuível aos accionistas ascendeu a 342 milhões de euros, mais 27,7% que no exercício anterior.

Apesar da queda do resultado líquido, a proposta de remuneração aos accionistas melhora ligeiramente, com o pagamento de um dividendo de 0,0537 euros por acção (0,0511 euros no exercício anterior), o que corresponde a um dividend yield de 5,7%.

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