Polónia volta a sugerir envio de caças MiG-29 para a Ucrânia

Estados Unidos da América e outros países da NATO temem que o envio de caças de combate seja visto na Rússia como uma declaração de guerra, pelo que a hipótese é remota nesta altura.

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A Força Aérea da Rússia não conseguiu garantir a superioridade aérea na Ucrânia Reuters/ALEXANDER ERMOCHENKO

Por duas vezes na última semana, os principais líderes políticos da Polónia vieram a público afirmar que o país está disposto a enviar caças MiG-29 para a Ucrânia, à semelhança de outras declarações no mesmo sentido que têm partido de Varsóvia desde o início da invasão russa, a 24 de Fevereiro de 2022.

Nesta terça-feira, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, disse que a Polónia está preparada para ceder à Ucrânia uma quantidade não especificada dos seus 29 caças de fabrico soviético, numa operação que poderia ser feita "dentro das próximas quatro a seis semanas".

A declaração de Morawiecki, durante uma conferência de imprensa em Varsóvia, segue-se a uma resposta do Presidente polaco, Andrzej Duda, numa entrevista ao canal norte-americano CNN, na quarta-feira da semana passada: "Estamos prontos para enviar os restantes MiG-29 que temos na Polónia e que estão ao serviço da nossa Força Aérea."

A pressão da Polónia foi acompanhada nos últimos dias pela Eslováquia, cujo ministro da Defesa, Jaroslav Nad, disse que tinha "chegado a hora de tomar uma decisão" sobre o envio de aviões de combate para a Ucrânia.

"As pessoas na Ucrânia estão a morrer. Nós podemos ajudá-las", disse Nad, numa mensagem publicada nas redes sociais na quinta-feira da semana passada, depois da entrevista do Presidente da Polónia à CNN.

Sem apoio alargado

Tanto o ministro eslovaco, como o primeiro-ministro e o Presidente polacos, sublinharam que um eventual envio de caças MiG-19 para a Ucrânia teria de ser feito no âmbito de coligações internacionais — com a Eslováquia a dizer que avançaria com a Polónia, e a Polónia a avisar que só avança como parte de uma "coligação internacional".

Até ao momento não há qualquer indicação de que os Estados Unidos aceitem fazer parte de uma coligação para o envio de caças de combate para a Ucrânia, o que poderia ser visto na Rússia como a formalização da entrada da NATO na guerra na Ucrânia.

Também na Europa, principalmente longe da fronteira com a Ucrânia, há muitas dúvidas sobre o envio de aviões para a Ucrânia, com vários líderes políticos a salientarem — contra as declarações do Presidente ucraniano, Voldymyr Zelensky — que o Exército ucraniano precisa mais de fogo de artilharia do que de apoio aéreo nesta fase da guerra.

"A necessidade é clara", diz David Axe, um especialista em assuntos militares, num artigo publicado na revista Forbes. "A força aérea ucraniana começou a guerra com cerca de 50 MiG-29 do tempo da União Soviética, e desde então pelo menos 18 foram abatidos por mísseis russos. Os técnicos ucranianos conseguiram reparar a fuselagem de alguns aviões que estavam postos de lado, mas mesmo assim a frota de MiG-29 de Kiev está debaixo de uma grande pressão."

Segundo os números oficiais, a Polónia chegou a ter 44 MiG-29: 12 foram herdados da União Soviética em 1991; dez foram comprados à República Checa em 1996; e 22 foram vendidos pela Alemanha em 2003. Com o passar dos anos, pelo menos 15 destes aviões ficaram fora de serviço, e a Força Aérea polaca tem hoje 29 — um número que pode fazer a diferença no campo de batalha, segundo Mateusz Piatkowski, professor de Direito da guerra na Universidade de Lodz, na Polónia.

"Nas circunstâncias deste conflito, dado que a Força Aérea Russa não conseguiu garantir uma superioridade aérea, o envio de 20 ou 30 aviões poderia efectivamente reforçar as hipóteses da Força Aérea ucraniana em combate", disse Piatkowski num artigo publicado no blogue Opinio Juris, dedicado à discussão académica sobre o Direito internacional.

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