Pessoas em cadeira de rodas foram impedidas de participar na mini maratona de Lisboa

Ao contrário do que acontece “há mais de 20 anos”, o Maratona Clube Portugal impediu a participação de pessoas que se deslocam em cadeira de rodas, alegando motivos de segurança.

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Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa refuta argumentos da organização da mini maratona DR

A 32.ª edição da mini maratona de Lisboa que decorreu este domingo, 12 de Março, ficou marcada pela impossibilidade de pessoas que se deslocam em cadeira de rodas participarem na prova. Chegados à Ponte 25 de Abril, os elementos da Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa, presença assídua no evento “há mais de 20 anos”, foram abordados pelo director da prova, Mário Machado, que alegou a proibição de cadeiras de rodas na mini maratona.

“Ontem era só mais um dia, tinham os dorsais, mas o director proibiu a entrada na prova e deu ordem à polícia para os retirar do local”, relata ao PÚBLICO Miguel Ferreira Pinto, que neste domingo correu sozinho, ao contrário do que é habitual. Miguel Ferreira Pinto costuma acompanhar o irmão, Pedro, que se desloca numa cadeira de rodas e ia competir na mini maratona.

Segundo Miguel Móia, director no Maratona Clube de Portugal, a proibição resultou das medidas segurança impostas. “Já aconteceram acidentes na ponte, quando as rodas ficam presas nas grades. Pelo desnível em Alcântara, ao descer, as cadeiras ou carrinhos ganham velocidade”, explica ao PÚBLICO.

Em comunicado, publicado na noite deste domingo, o Maratona Clube de Portugal recorreu ao 32.º artigo da prova, que proíbe a utilização de patins, trotinetes, carrinhos de bebé e outros acessórios, a fim de evitar "incidentes graves ocorridos em edições anteriores".

A directora da Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa (APCL), Ivone Silva, argumenta, em entrevista ao PÚBLICO, que “uma cadeira de rodas para alguém que não se consegue deslocar de outra forma não é um acessório”, pelo que “o artigo não pode ser aplicado a estas pessoas”. Além disso, lembra Ivone Silva, acidentes em edições anteriores da mini maratona “nunca envolveram os utentes da APCL, [já que] quem acompanha os participantes são pessoas experientes”.

Miguel Ferreira Pinto critica o Maratona Clube de Portugal pela “série de contradições” no comunicado publicado. “A organização justifica com a segurança. Um evento [a Meia Maratona] com 30 mil participantes e a organização escolhe excluir pessoas. Alegaram um acidente com cadeira de rodas, mas em 2022 trouxeram uma dupla espanhola e usaram como ferramenta de marketing.

O director do Maratona Clube de Portugal, Miguel Móia, garante que vai reunir com a APCL a fim de esclarecer o sucedido e encontrar soluções para a logística a envolver a Ponte 25 de Abril. Miguel Móia alega ainda que não recebeu qualquer contacto sobre a inscrição da APCL na prova.

Contudo, e ao contrário do que indica o comunicado do Maratona Clube de Portugal, a directora da APCL, Ivone Silva, garante que ainda não recebeu qualquer contacto e lembra a "relação estreita e muito próxima" com a organização anterior. “Se a intenção é não permitir a participação destas pessoas, esta é uma forma camuflada de o fazer.”

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