Barracão agrícola transformado em lar tinha duas casas de banho para 27 idosos

Em cada quarto viviam entre quatro a cinco pessoas. Não havia actividades, nem sequer uma televisão.

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Investigação ao lar ilegal em Palmela começou com queixa de maus tratos na PJ Daniel Rocha

Por fora era um simples barracão agrícola como tantos outros. Por dentro, tinha sido sujeito a obras para dividir o espaço amplo em alguns quartos, cozinha e apenas duas casas de banho individuais. Era assim que viviam 27 idosos entre os 70 e os 90 anos, com muito pouca assistência num lar clandestino, nas Lagameças, em Palmela, no distrito de Setúbal, que foi encerrado esta quinta-feira pelas autoridades.

A operação foi dirigida pela Polícia Judiciária (PJ) de Setúbal, mas contou com a “estreita colaboração” da Segurança Social, da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e do delegado de saúde, como anunciou aquela polícia num comunicado.

Segundo o PÚBLICO apurou, a investigação começou há pouco mais de um mês, quando deu entrada no Departamento de Investigação Criminal de Setúbal uma denúncia que dava conta da existência de maus-tratos contra idosos naquele barracão.

Os investigadores foram reunindo elementos e acreditam que a situação se mantinha já há algum tempo. Exactamente quanto ainda vão apurar.

Certo é que os quartos eram pequenos, mas em cada um deles viviam quatro a cinco idosos, alguns acamados. Além da pobreza dos cuidados e da parca alimentação (que nem sequer tinha horas certas), os utentes não tinham qualquer tipo de actividades. Nem sequer havia televisão no barracão. Era um simples depósito de pessoas.

Na nota divulgada à imprensa, a PJ não faz grande descrição do cenário que encontrou. “No decurso das diligências foi possível verificar que as instalações onde funciona o referido lar, se tratam de edifícios vocacionados para a actividade agrícola e que nada tem a ver com o funcionamento de um lar”, refere-se apenas.

Um médico passava de vez em quando na instituição, mas tal não impediu que quando esta quinta-feira as autoridades decidiram fazer buscas tenham considerado que cinco utentes precisavam de ser encaminhadas para o hospital, por terem necessidade de receber cuidados médicos. Estes idosos foram transportados para o Hospital de São Bernardo, em Setúbal. Dos restantes 22 utentes, a maior parte ficou ao cuidado de familiares, enquanto três foram encaminhados pela Segurança Social para outras instituições.

As autoridades não detectaram, até agora, situações de violência física sobre os idosos, mas não têm dúvidas de que as precárias condições em que viviam os utentes configuram o crime de maus tratos, pelo qual são visados vários arguidos que já foram constituídos no processo. Apesar das poucas condições deste lar clandestino, os utentes ou as suas famílias pagavam centenas de euros de mensalidade. Um valor que, garantem ao PÚBLICO, não é muito inferior ao praticado em instituições devidamente legalizadas, que cumprem todas as condições exigidas.

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