Caixa Geral de Depósitos aumenta lucros para 843 milhões em 2022

Crescimento da actividade principal, operações internacionais e redução das imparidades explicam o aumento dos lucros do banco público. Dividendo ao Estado chega aos 352 milhões, o maior de sempre.

Foto
Paulo Macedo lidera o banco público Rui Soares

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) reportou um resultado líquido de 843 milhões de euros em 2022, valor que representa uma subida de 44,5% em relação aos lucros de 583 milhões que tinham sido alcançados no ano anterior. Perante estes resultados, o banco público vai distribuir um dividendo de 352 milhões de euros ao accionista Estado, o maior valor de que há registo.

Os resultados foram anunciados, esta quinta-feira, em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Os lucros alcançados num "contexto económico instável", justifica o banco, são explicados por três factores: o crescimento da actividade principal, que compensou o aumento de custos; o desempenho positivo da actividade internacional, que deu um contributo de 193 milhões de euros para o resultado líquido ("o maior resultado de sempre das entidades internacionais detidas"); e a diminuição das provisões e imparidades.

No que diz respeito à actividade principal do banco, a Caixa beneficiou, à semelhança do que tem acontecido com o restante sector, da subida das taxas de juro. Nesse contexto, a margem financeira cresceu quase 44% e totalizou 1408 milhões de euros no conjunto de 2022. Ainda do lado operacional, as receitas obtidas por via de serviços e comissões aumentaram 7,8% e ascenderam a 606 milhões de euros. Sobre este tema, o presidente executivo da Caixa, Paulo Macedo, lembrou, em conferência de imprensa, que o banco público foi a única instituição bancária a anunciar que não iria aumentar comissões este ano, "o que significa que elas vão reduzir-se por via da inflação".

Por outro lado, os custos de estrutura dispararam 58% e ultrapassaram os 1203 milhões de euros, uma evolução explicada, sobretudo, pelos encargos suportados com o plano de reestruturação do banco e pela extinção do Fundo de Pensões da CGD e transferência das responsabilidades com as pensões para a Caixa Geral de Aposentações.

O produto global da actividade acabou, assim, por crescer 32% e fixar-se em 2304 milhões de euros.

Também do lado comercial se registam melhorias, ainda que menos expressivas. A carteira de crédito a clientes total aumentou em 2% e fixou-se em 53.032 milhões de euros. Para este crescimento contribuíram todos os segmentos, mas, sobretudo, o crédito a particulares que, em Portugal, aumentou em 1,8%. Já o crédito a empresas aumentou em 0,7%.

Ainda no que diz respeito ao crédito, a Caixa voltou a conseguir melhorias na qualidade da carteira e reduziu o rácio de NPL (non-performing loans, indicador utilizado para medir o nível de malparado) de 2,8% em 2021 para 2,4% no final do ano passado. Isto, num ano em que a Caixa reduziu o montante de provisões e imparidades em 173,9 milhões de euros. Este ano, a expectativa é que o crédito malparado continue a reduzir-se, já que a Caixa está, novamente, à procura de vender activos tóxicos. "Estamos a fazer consultas ao mercado, para perceber quais são os valores em causa em operações que possibilitarão vendas de carteiras para baixar o rácio de NPL ou para eliminar os activos que temos há muito tempo em balanço. Essas carteiras não têm uma data para concretização, estão a ser analisadas", resumiu Paulo Macedo.

Já os depósitos de clientes aumentaram em mais de 6% e totalizaram 83.875 milhões de euros. Contabilizando ainda os recursos fora do balanço, os recursos totais de clientes ascenderam a 98.300 milhões de euros, um crescimento de 2,7% em relação ao ano anterior.

Quanto à solidez do banco, o rácio core equity tier 1 aumentou de 18,2% para 18,7%.

Dividendo de 352 milhões

Perante estes resultados, a Caixa planeia entregar ao Estado um dividendo de 352 milhões de euros relativo ao exercício de 2022, montante que ainda está dependente de autorizações regulatórias mas que, a confirmar-se, será o dividendo mais elevado já distribuído pelo banco público.

Considerando o dividendo de 2022, a que se somam aqueles que foram distribuídos desde 2018, a Caixa terá devolvido, este ano, um total de 1314 milhões de euros ao Estado, valor que representa cerca de um terço da recapitalização de 3,9 mil milhões de euros, com dinheiros públicos, que foi feita em 2017.

Ao dividendo em dinheiro que será distribuído este ano soma-se, ainda, o edifício onde a CGD tem a sede, em Lisboa, que o banco público planeia entregar ao Estado, como dividendo em espécie, até ao final de 2023. Para já, adiantou Paulo Macedo, já estão a ser feitas avaliações ao imóvel e o banco público está, agora, à procura de um novo edifício, com cerca de 30 mil metros quadrados e na área da Grande Lisboa, para instalar a sede.

Sugerir correcção
Ler 18 comentários