Questão dos metadados “já devia ter sido resolvida”, diz presidente do Conselho Superior da Magistratura

“Esta questão é uma questão que realmente não está na alçada nem do CSM nem dos juízes. Tem que ser o poder executivo, o poder legislativo a resolver isto”, sublinha Henrique Araújo.

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O magistrado falava num briefing aos jornalistas de balanço da actividade do CSM LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

Os metadados são "uma questão muito preocupante" que "já devia ter sido resolvida" pelo poder executivo, defendeu nesta terça-feira o presidente do Conselho Superior da Magistratura (CSM), que afirmou ser "muito difícil" que "a verdade material se sobreponha" nos processos.

"Isto preocupa-nos a todos. O que os juízes querem é que seja feita justiça e que a verdade material se sobreponha a tudo o resto, o que é muito difícil a maior parte das vezes. Mas esta questão é uma questão que realmente não está na alçada nem do CSM nem dos juízes. Tem que ser o poder executivo, o poder legislativo a resolver isto", disse Henrique Araújo, o juiz conselheiro que preside ao CSM.

O magistrado falava num briefing aos jornalistas de balanço da actividade do CSM, que decorreu nesta terça-feira na sede do órgão de gestão e disciplina dos juízes, em Lisboa.

O Tribunal da Relação de Évora (TRE) anulou o acórdão do processo de Tancos, entre outros motivos por ter sido declarada a nulidade da utilização de prova obtida através de metadados, considerando que os factos dados como provados em muitos pontos do processo se encontram irremediavelmente afectados e devem ser reequacionados.

Questionado sobre a matéria, Henrique Araújo afirmou que a questão dos metadados "é uma questão muito preocupante que já devia ter sido resolvida". "Os juízes apenas aplicam a lei e se o poder legislativo tem algum entendimento que o faça converter em lei os juízes cumprirão o que for determinado", disse.

Sobre a utilização de prova obtida através de metadados, o TRE recordou o acórdão proferido pelo Tribunal Constitucional, em Abril do ano passado, que declarou a inconstitucionalidade da conservação das informações de telecomunicações de toda a população, de forma indiscriminada, por um ano.

"Do exame do acórdão em recurso decorre, sem equívocos, a utilização de dados armazenados por operadoras de telecomunicações - dados de tráfego e dados de localização - para fundamentar a factualidade" que consta, como provada, em alguns pontos, pode ler-se na decisão.

Os juízes concluíram que, "não sendo permitida a utilização de prova obtida por metadados, não resta senão concluir que a factualidade considerada como provada" em vários pontos se encontra "irremediavelmente afectada e que deve ser reequacionada, expurgando-se, na formação da convicção do Tribunal, o que possa ser resultante de prova obtida por metadados".

Esta decisão do TRE resulta dos recursos apresentados por 20 dos 23 arguidos após o acórdão do Tribunal de Santarém sobre o caso do furto de armas dos paióis de Tancos.

O processo do furto e recuperação de material militar dos Paióis Nacionais de Tancos (PNT) tinha terminado com os autores materiais a receberem prisão efectiva.

Foram condenados a penas de prisão efectivas o autor confesso do furto, João Paulino, com a pena mais grave, e os dois homens que o ajudaram a retirar o material militar dos PNT na noite de 28 de Junho de 2017, João Pais e Hugo Santos.

O furto das armas foi divulgado pelo Exército em 29 de Junho de 2017 com a indicação de que ocorrera no dia anterior, tendo a recuperação de algum material sido feita na região da Chamusca, Santarém, em Outubro de 2017, numa operação que envolveu a PJM em colaboração com elementos da GNR de Loulé.

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