UHF voltam a fazer soar Ucrânia Livre, um ano após a invasão das tropas de Putin

Um ano após a invasão russa, a canção Ucrânia Livre volta a soar, ao longo desta sexta-feira. Uma insistência dos UHF, até que a guerra acabe.

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António Manuel Ribeiro a cantar à frente de uma bandeira da Ucrânia DR

Poucos dias depois da invasão da Ucrânia pelas tropas russas a mando de Vladimir Putin, os UHF publicaram nas plataformas digitais a canção Ucrânia Livre, com legendas em português e em ucraniano. Foi uma forma de mostrarem a sua posição face ao conflito, tal como já havia sucedido com a guerra da Bósnia, que os levou a compor a canção Sarajevo. E se nesta cantavam “Diz-me que este Verão foi mentira/ Nada disto está a acontecer/ Sarajevo, um alvo nas miras/ E os polícias do mundo estão a ver”, Ucrânia Livre começa com uma glosa do início de Sarajevo, mudando apenas a estação do ano: “Diz-me que este Inverno é mentira/ A velha ordem quer regressar/ A loucura na ponta das miras/ O invasor não pode passar.” E o refrão diz: “Ucrânia livre/ Que a guerra devora/ De pé resiste/ Na velha Europa/ Ucrânia livre/ Ucrânia livre – vencerá.”

Quando escreveu a canção, publicada no dia 4 de Março de 2022, António Manuel Ribeiro, vocalista e fundador dos UHF, estava longe de imaginar que ainda iria cantá-la um ano depois, não como memória, mas com os mesmos fundamentos. “Não imaginei”, diz agora ao PÚBLICO. “Eu estava chocado com o facto de haver uma nova guerra na Europa, que parece que se esqueceu das duas guerras mundiais, da guerra da Bósnia e de alguns conflitos, mas nunca pensei que isto fosse uma destruição tão metódica. O que vejo são escombros a aparecerem onde havia antes cidades.”

Mas a canção teve vários ecos, desde a publicação: “Deixei que as coisas corressem e elas tomaram vida própria. Ainda ontem soube que um fã dos UHF, através do Instagram e logo nos primeiros dias, pôs no Instagram do Zelensky a nossa canção e o vídeo, com legendagem em português e ucraniano. O que eu vi, ao longo deste tempo, no YouTube, é que a canção tem muitos comentários, até em ucraniano, o que quer dizer que chegou a muitos sítios.”

“Reacções fantásticas”

Na digressão de 2022, os UHF cantaram-na e era um “momento solene”, diz António: “Normalmente era a primeira canção do encore, e até os nossos técnicos iam para cima do palco cantar o refrão. Em Dezembro, na nossa digressão Podia Ser Natal, tivemos reacções fantásticas, pessoas a levantarem-se como uma mola, a baterem palmas. E é fundamental que isso aconteça, sobretudo para não deixar que isto caia numa espécie de ‘normalidade’, porque vemos as notícias todos os dias e a escalada é perigosa.”

O mais recente discurso de Vladimir Putin, em Moscovo, deixou António Manuel Ribeiro ainda mais apreensivo: “Fiquei abismado. Como é possível um sujeito estar à frente de uma nação e ter este tipo de discurso, mentiroso, completamente falso. E isso faz-me muita confusão, porque isto pode não ser tão ‘simples’ quanto nós gostaríamos que fosse. Porque não estou a ver vontade de chegar a uma conferência de paz.”

Concerto colectivo no Porto

Para dar continuidade à canção Ucrânia livre, o líder dos UHF não parará, neste dia 24. Começa logo de manhã na Antena 1 e terminará à noite, no Porto, num espectáculo colectivo na Alfândega, cuja receita reverte para a ajuda humanitária à Ucrânia. “Eu soube que há uma série de materiais que são perfeitamente necessários neste momento, como cobertores, aquecedores, porque se o Inverno está como está, lá ainda está pior.”

Enquanto a guerra continuar, os UHF não desarmarão, garante António Manuel Ribeiro: “Isto é o que nos resta, aos trovadores: alertar as pessoas, chamar a atenção para aquilo que neste momento vale a pena, que é a situação do povo ucraniano e também do povo russo, que não sabe o que se passa, com soldados a morrer aos milhares numa guerra estúpida. São os dois lados. E eu vejo a situação dos dois lados, naturalmente.”

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