Movimento Vida Justa receia que manifestação do Stop dilua reivindicações dos bairros

Stop marcou manifestação para o mesmo dia em que já estava agendada a marcha do Movimento Vida Justa contra o aumento dos preços.

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Manifestação do Stop recebida com desagrado pelo movimento Vida Justa Rui Gaudencio

Foi com desagrado que o Movimento Vida Justa recebeu o anúncio feito, nesta sexta-feira, pelo coordenador do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop), André Pestana, dando conta da convocação de uma nova manifestação de professores para o mesmo dia, este sábado, e quase com o mesmo percurso da marcha contra o aumento dos preços que aquele colectivo marcou há mais de um mês.

Numa mensagem publicada esta segunda-feira nas suas redes sociais, o Movimento Vida Justa dá conta de que esse desagrado foi comunicado ao Stop numa conversa “entre dois elementos dessas organizações no passado domingo”: “O elemento da Vida Justa disse que esse movimento tinha todo o respeito pela luta dos professores, mas que não tinham ficado muito agradados com a marcação de um protesto dos professores para o mesmo dia em que se iriam ouvir as reivindicações das populações dos bairros, normalmente remetidas para a invisibilidade social, política e mediática”.

Na mensagem desta segunda-feira refere-se que “o dirigente do Stop explicou que a decisão tinha sido tomada numa reunião com 270 comissões de greve de todo o país, mas que o sindicato estava solidário com as reivindicações da Vida Justa.” O Stop não respondeu às perguntas do PÚBLICO.

Segundo indicou ao PÚBLICO um dos activistas daquele colectivo, o receio é de que o “peso mediático” que os protestos dos professores voltaram a ganhar acabe por abafar os dos participantes na manifestação por uma vida justa, que é também o nome do movimento que nasceu de um encontro no bairro da Cova da Moura, em Outubro, e que se estendeu a outros bairros da Grande Lisboa.

Fenprof apoia Vida Justa

Foi também para evitar a diluição destas vozes entre a dos professores que as duas organizações acordaram, naquela conversa, “que fariam percursos diferentes que não se cruzariam”. Como marcado inicialmente, o Stop sai às 14h do Palácio da Justiça, na Rua Marquês da Fronteira, em Lisboa, tendo como destino a residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento. E o Movimento Vida Justa fará o percurso anunciado há mais de um mês, com concentração às 15h no Marquês de Pombal e tendo como destino a Assembleia da República em São Bento.

Nos grupos presentes em redes sociais e próximos do Stop, como é o caso da página dos “professores em luta”, onde também são vários os comentários de desagrado pela convocação do protesto dos professores para o mesmo dia do desfile do Movimento Vida Justa, chegou a circular que a manifestação do Stop integraria a deste colectivo a partir do Marquês de Pombal. O que não se verificará. As duas manifestações só se “encontrarão” frente à Assembleia da República, já depois do final da acção do Stop.

Quem, entretanto, já manifestou publicamente o apoio à manifestação por uma vida justa foi a Federação Nacional de Professores (Fenprof), que esta segunda-feira divulgou uma nota a apelar “à participação dos docentes e dos investigadores” na manifestação de sábado. “A exigência de uma vida justa deve contar com a solidariedade e a mobilização de todos nós”, frisa aquela estrutura sindical, afirmando que se “revê no manifesto e nos objectivos da manifestação”, convocada a 8 de Janeiro.

“É preciso dar poder às pessoas para conseguirem ter uma vida digna. Exigimos um programa de crise que defenda quem trabalha”, afirma-se no manifesto que foi subscrito por centenas de pessoas, entre as quais António Filipe, ex-deputado comunista, Fernando Rosas e José Manuel Pureza, ex-dirigentes do Bloco de Esquerda, Miguel Vale de Almeida, ex-deputado do PS, e figuras da cultura como Dino D’Santiago ou Francisco Fanhais.

Por entenderem que “a crise climática e a crise de custo de vida têm a mesma origem”, também os colectivos pelo clima Climáximo, Greve Climática Estudantil e Scientist Rebellion vão juntar-se à manifestação. Afirmam que “o aumento do custo de vida dos povos nos países por todo o mundo e em Portugal é consequência de uma economia capitalista construída para ser viciada em combustíveis fósseis”.

Estes movimentos têm protagonizado várias acções de desobediência civil, que são aliás uma das suas marcas. Um dos elementos do Scientist Rebellion assegurou, contudo, ao PÚBLICO que não estão programados actos deste tipo para a manifestação de sábado.

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