Biden e Lula dizem-se unidos na luta contra as alterações climáticas

Presidente do Brasil viajou na quinta-feira para Washington. Biden e Lula dizem estar na “mesma página” no que toca à “crise climática”.

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Lula encontrou-se com Biden esta sexta-feira Reuters/JONATHAN ERNST

Alterações climáticas e as ameaças à democracia. Estes temas marcaram o primeiro encontro do presidente do Brasil, Lula da Silva, com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pelo menos na parte pública da reunião desta sexta-feira, na Casa Branca.

Os dois líderes abriram a sua reunião no final da tarde no Sala Oval à imprensa e falaram sobre os valores partilhados no combate às mudanças climáticas e na protecção da democracia contra o aumento do autoritarismo — numa normalização das relações entre os dois países após o fim do governo de Jair Bolsonaro, aliado declarado de Donald Trump.

“Temos de continuar a defender a democracia e os nossos valores democráticos que formam o cerne da nossa força”, disse Biden a Lula antes de uma sessão privada entre os líderes, acrescentando que os dois estavam na “mesma página” no que toca à “crise climática". Lula disse acreditar que os dois países podem trabalhar juntos nestas questões.

Com a visita de Lula da Silva a Washington, é esperado que Joe Biden anuncie a primeira contribuição deste país para o Fundo Amazónia. O Brasil anseia ver mais países a contribuir para o fundo iniciado pela Alemanha e pela Noruega para apoiar a protecção da floresta tropical e projectos de desenvolvimento sustentável, que foi suspenso durante a presidência de Jair Bolsonaro.

O governo Biden está a pensar contribuir com 1,3 mil milhões de dólares (mais de 1,2 mil milhões de euros), segundo fontes ouvidas pela Reuters. Uma contribuição dos Estados Unidos para o fundo administrado pelo Brasil enfatizaria o restabelecimento dos laços entre os dois países após o recente período de relações frias.

Lula diz que Bolsonaro é "imitador" de Trump

Em entrevista à CNN Internacional, antes do encontro com Biden, o Presidente brasileiro disse que o seu antecessor, Jair Bolsonaro, é um "fiel imitador" do Republicano Donald Trump e que “não tem chances" de voltar ao poder.

Luiz Inácio Lula da Silva concedeu esta sexta-feira uma entrevista à jornalista Christiane Amanpour, onde afirmou que as divisões que afectam o seu país não são piores do que a divisão política nos Estados Unidos.

Quer Lula da Silva, quer o seu homólogo norte-americano, Joe Biden, assumiram os cargos presidenciais num cenário de denúncias infundadas de fraude eleitoral que levaram a ataques nas respectivas capitais — contra as sedes dos três poderes em Brasília, em 8 de Janeiro, e contra o Capitólio dos EUA, em 6 de Janeiro de 2021.

“Nunca poderíamos imaginar que num país que era o símbolo da democracia no mundo, alguém pudesse tentar invadir o Capitólio”, disse o chefe de Estado brasileiro sobre os ataques perpetrados em 2021 por apoiantes do ex-presidente Donald Trump.

Lula da Silva classificou então Bolsonaro de “fiel imitador de Trump”, dizendo que ambos “não gostam de sindicatos, não gostam de trabalhadores, não gostam de mulheres, não gostam de negros”. Ainda assim, o líder brasileiro disse estar convencido de que "nem todos os que votaram em Bolsonaro seguem o 'bolsonarismo'”.

Bolsonaro desde Dezembro na Florida

Jair Bolsonaro encontra-se desde Dezembro do ano passado no estado norte-americano da Florida, tendo solicitado um visto de turista para poder permanecer por mais tempo nos EUA. Na entrevista à CNN, Lula da Silva afirmou que "não falará sobre isso" com Biden: “Um dia ele (Bolsonaro) tem que voltar ao Brasil e enfrentar todos os processos contra si”.

Bolsonaro enfrenta “quase 12 processos no Brasil e mais casos virão”, disse Lula da Silva, acrescentando que acredita que seu antecessor “será condenado em algum tribunal internacional por causa do genocídio face à covid-19, porque metade das mortes no Brasil foram da responsabilidade do Governo federal”.

Luiz Inácio Lula da Silva também alegou que Bolsonaro poderia ser “punido” pelos tribunais pelo “genocídio contra o povo indígena Yanomami” depois de a mineração ilegal em territórios protegidos ter disparado durante o seu mandato.

O Presidente do Brasil viajou na quinta-feira para Washington, mas a sua agenda oficial começou esta sexta-feira, com um encontro com o senador Bernie Sanders, seguindo-se reuniões com outros congressistas do partido Democrata e com um grupo de sindicalistas, ao que se seguiu o encontro com Biden na Casa Branca.

Um dos principais pontos da agenda é o facto de o Brasil e EUA enfrentarem desafios semelhantes ligados à radicalização política e ao discurso de ódio no espaço virtual, pelo que será umas das abordagens nesta que é a primeira visita de Lula da Silva a Washington desde que assumiu o seu terceiro mandato, em Janeiro.

Segundo fontes oficiais, o desenvolvimento sustentável e o combate às mudanças climáticas estão também no centro da agenda, com foco no fortalecimento de parcerias público-privadas e novos investimentos em matéria de transição energética.

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