Como Putin usa Ceuta para escapar às sanções ao petróleo russo

Diário espanhol El País diz que regime russo tem uma “bomba de gasolina low cost” no estreito de Gibraltar – passando o crude de navio para navio para evitar pagar taxas portuárias.

Foto
A petrolífera russa Rosneft - o mercado chinês e indiano representou mais de 88% das vendas de cruse russo em Janeiro DADO RUVIC/Reuters

A cerca de 20 quilómetros de Ceuta está um ponto-chave para a estratégia da Rússia de continuar a vender petróleo apesar das sanções ocidentais. A cidade autónoma espanhola, no Norte de África, ganhou importância para os envios de crude para os novos mercados, Índia e China.

Os dois países representaram, desde Janeiro deste ano, mais de 88% das vendas de crude russo. O Sul de Espanha aparece como ponto ideal para o trânsito destes navios, porque as sanções europeias não permitem aos armadores e às seguradoras da União Europeia garantirem o transporte do crude russo, o que limita as rotas disponíveis e torna Ceuta importante para a Rússia.

A Rússia envia navios mais pequenos com menos barris para o estreito de Gibraltar – desde Dezembro, foram pelo menos 15 navios, com aproximadamente 700 mil barris – que são depois transferidos para um navio maior, com capacidade para até dois milhões de barris e com origem noutro porto.

Esse tipo de operação é conhecido como STS, ship to ship, uma prática habitual embora não isenta de riscos. Por essa questão, Espanha não permite que seja feita nas suas águas territoriais, mas pode ser efectuada em águas internacionais. Assim, não viola qualquer lei internacional nem as sanções aos produtos petrolíferos impostas por G7, União Europeia e Austrália. A permanência em alto mar é também usada para evitar pagar por serviços portuários, diminuindo o custo do transporte.

Um exemplo dado pelo diário El País é o de um pequeno navio, o Lyra, com bandeira do Panamá, que levou do porto russo de Primorsk 672.439 mil barris e que perto de Ceuta os passou para o navio Natalina 7, que se mantém em águas internacionais enquanto espera pela última de três cargas.

Há ainda, diz o El País, um detalhe geográfico que se junta aos motivos para a maior popularidade da zona para a Rússia: as águas mais calmas do Mar Mediterrâneo facilitam as operações de transferência de crude, que seriam mais complexas nas águas mais agitadas do Atlântico Norte, onde a Rússia chegou a fazer estas operações entre Maio e Agosto de 2022.

Outra característica que facilita as manobras na zona é que como Espanha e Marrocos nunca delimitaram as suas águas territoriais na zona, um aumento de patrulhas espanholas poderia criar um incidente diplomático.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários