O vaivém do Governo no envio dos tanques Leopard 2 à Ucrânia

O primeiro-ministro pôs um ponto final na indecisão, que envolveu o ministro dos Negócios Estrangeiros e a ministra da Defesa.

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Portugal tem actualmente 37 tanques Leopard 2 Reuters/BENJAMIN WESTHOFF

Se a nível internacional, o envio dos tanques Leopard 2 para a Ucrânia suscitou ziguezagues — com a Alemanha hesitante em viabilizar o apoio inicialmente —, também no Governo esta matéria gerou confusões. Depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros ter assumido que Portugal enviaria estes carros de combate aos ucranianos para, momentos a seguir, se descomprometer, apoiado por Helena Carreiras, agora, o primeiro-ministro veio confirmar que fornecerá alguns dos 37 tanques portugueses até ao final de Março, sem dizer quantos exactamente.

Tudo começou quando o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, declarou numa conferência de imprensa com o presidente do Conselho Europeu, a 19 de Janeiro, que "vários países", entre os quais Portugal, estariam "prontos para fornecer uma pequena quantidade de tanques", faltando apenas a aprovação da Alemanha que é a fabricante destes equipamentos.

No dia seguinte, após uma reunião dos ministros da Defesa dos países aliados da Ucrânia em Ramstein, na Alemanha, o Ministério da Defesa Nacional informou, em comunicado, que Portugal estava disponível para oferecer treino à Ucrânia em Leopard 2, mas não se comprometeu com o envio dos tanques em si. Embora tenha mostrado "disponibilidade" para "identificar, de forma coordenada com os seus parceiros, formas de apoiar a Ucrânia com esta capacidade”.

Cinco dias depois, na sequência de a Alemanha ter autorizado o envio dos Leopard 2 para a Ucrânia, o ministro dos Negócios Estrangeiros deu a entender que Portugal iria integrar a lista dos países aliados que forneceriam estes carros de combate aos ucranianos: "Vai demorar dois ou três meses, mas o importante é que está assumido este compromisso", afirmou em declarações à SIC Notícias, à margem de uma visita à Associação dos Deficientes das Forças Armadas, em Castelo Branco.

João Gomes Cravinho avançou até detalhes sobre a operação: explicou que o envio dependeria "da formação" dos militares ucranianos e dos "aspectos logísticos que precisam de ser combinados com os aliados", mas que seria expectável que a entrega fosse feita "parcialmente por comboio e depois, eventualmente, por navio e depois outra vez por comboio”.

Momentos depois, em declarações aos jornalistas, o ministro recuou: "Não há nenhuma decisão sobre o envio de carros de combate portugueses para a Ucrânia", disse, dando a entender que a palavra final dependeria das "possibilidades" de Portugal.

No mesmo evento em Castelo Branco, a ministra da Defesa, Helena Carreiras, assegurou novamente apenas a oferta de treino à Ucrânia, deixando a decisão sobre a cedência dos Leopard 2 para mais tarde. Também à SIC Notícias, declarou que "Portugal manifestou disponibilidade para ajudar a Ucrânia a edificar esta capacidade com os Leopard 2, designadamente com o treino", mas que o Governo estaria ainda a "consultar com os nossos parceiros (...) para avaliar a situação", isto é, "as diferentes modalidades de ajudar a Ucrânia", "dentro das nossas possibilidades".

Pelo meio, vários militares se mostraram críticos em relação à hipótese de Portugal entregar os tanques. Ao PÚBLICO, o ex-chefe do Estado-Marior do Exército, por exemplo, considerou tratar-se de "uma ideia peregrina" que "pode afectar significativamente a capacidade blindada" de Portugal que tem "uma unidade [de tanques] que nem sequer está completa” — foram reservados mais 24 tanques que nunca chegaram a ser adquiridos.

Apesar das reticências, António Costa anunciou este sábado que Portugal está a "trabalhar" para "ter condições de dispensar alguns dos nossos tanques", não avançando, porém, quantos serão enviados. E garantiu que esta operação não fará com que o país "deixe de ter a sua capacidade militar intacta".

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