Polícia de Memphis divulga imagens da detenção de Tyre Nichols

A autoridades de Memphis, assim como de outras cidades dos Estados Unidos, prepararam-se nos últimos dias para a revolta que as imagens agora divulgadas podem gerar.

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Imagens divulgadas são das bodycams dos agentes, de câmaras montadas nos veículos da polícia e de câmaras de segurança instaladas na área Reuters/MEMPHIS POLICE DEPARTMENT

A polícia de Memphis divulgou esta sexta-feira à noite os vídeos da detenção de Tyre Nichols, o jovem afro-americano que morreu na sequência de lesões causadas pelas agressões de cinco polícias numa operação de trânsito.

Os quatro vídeos divulgados mostram as perspectivas das câmaras corporais de três agentes e de uma câmara de vigilância da zona do incidente. São registadas duas partes da detenção: num primeiro momento, Tyre Nichols tenta falar calmamente com os polícias, que desde o início da interacção agem de forma agressiva e berram ordens, forçando o jovem a deitar-se de barriga no chão no meio de um cruzamento.

Nichols acaba por fugir a pé, depois de ser atingido com um taser. A perseguição termina num bairro residencial, onde há as imagens da câmara de vigilância, sem som, e das bodycams de dois agentes.

Um dos vídeos capta a violência da detenção, sendo possível ver o polícia a pulverizar gás-pimenta na cara de Tyre, que já se encontra imobilizado no chão. A dada altura neste vídeo, é possível ouvir Nichols a chamar pela mãe, que vive a menos de 100 metros do local. Nichols não parece ter resistido inicialmente ou tentado ripostar.

No segundo vídeo, é possível ver o jovem de 29 anos encostado a um carro da polícia, já depois de várias agressões. Enquanto isso, os polícias comentam o incidente entre eles, ofegantes, mas descontraídos, indiferentes à presença do detido.

A divulgação pública dos vídeos era aguardada há vários dias, depois de o advogado que representa a família Nichols, Ben Crump, ter comparado as imagens ao caso de Rodney King, agredido em 1991 por quatro agentes da polícia de Los Angeles. Na altura, a absolvição dos agentes envolvidos no espancamento desencadeou dias de motins na cidade da Califórnia, que resultaram na morte de 53 pessoas e centenas de feridos.

As autoridades de Memphis, assim como de outras cidades dos Estados Unidos, prepararam-se nos últimos dias para a revolta que as imagens agora divulgadas podem gerar. Quem teve acesso aos vídeos das bodycams dos agentes, dos carros de patrulha e de câmaras de segurança instaladas na área em que aconteceu o incidente foi sublinhando o conteúdo extremamente perturbador, condenando prontamente as acções dos polícias.

A mãe de Tyre Nichols, RowVaughn Wells, já pediu que os protestos sejam sem violência. “Quero que todos e cada um de vocês protestem em paz. Não nos quero a queimar a nossa cidade, a destruir as ruas, porque não é isso que o meu filho defendia. E se estão aqui por mim e pelo Tyre, vão protestar pacificamente”, disse numa vigília realizada pelo filho.

"Nenhuma mãe deve passar por aquilo que estou a passar neste momento, nenhuma mãe. Perder o filho da forma violenta como eu perdi o meu”, disse esta sexta-feira.

"Não queremos qualquer tipo de distúrbios. Queremos protestos pacíficos. É isso que a família quer", disse o padrasto de Tyre Nichols, Rodney Wells.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, falou com a mãe de Tyre Nichols e disse-lhe que irá apresentar argumentos ao Congresso para a aprovação da lei George Floyd, que tem como objectivo reformar a polícia norte-americana. Em declarações aos jornalistas, disse ter expressado os seus sentimentos a RowVaughn Wells e disse ter ficado “muito agradado” pelo apelo aos protestos pacíficos.

Tyre Nichols morreu a 10 de Janeiro, três dias depois de ter sido mandado parar e agredido pelos agentes. Os cinco polícias envolvidos, todos afro-americanos, já foram despedidos da polícia de Memphis e acusados de homicídio em segundo grau, agressão agravada, sequestro agravado, má conduta oficial e opressão oficial.

Os advogados da família e membros da comunidade afro-americana de Memphis têm também exigido a extinção da unidade especial SCORPION, a que pelo menos alguns dos polícias envolvidos pertenciam. A unidade foi criada com o objectivo de combater a criminalidade violenta de rua e está agora suspensa.

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