EUA devolvem 60 artefactos roubados, entre os quais 21 expostos no Metropolitan, a Itália

Valor dos objectos pilhados em escavações ilegais ou traficados ilicitamente ascende aos 20 milhões de euros. Um fresco da região de Pompeia estava em casa de um investidor de capital de risco.

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O fresco que estava em casa de um coleccionador, agora banido vitaliciamente de comprar antiguidades TPC
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Cabeça de mármore de 'Athena' TPC
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Algumas das peças exibidas segunda-feira em conferência de imprensa, em Roma REMO CASILLI/Reuters
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O ministro da Cultura italiano REMO CASILLI/Reuters
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Cílice TPC
,Grécia antiga
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Estatueta de Júpiter TPC
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Elmo de tipo coríntio TPC
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Pregadeira em bronze TPC
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Fíbula TPC

Os Estados Unidos devolveram 60 artefactos arqueológicos no valor de mais de 20 milhões de euros a Itália, anunciou segunda-feira o ministro da Cultura italiano. Entre eles figuram 21 objectos que estiveram expostos no Museu Metropolitan de Nova Iorque e um fresco que retrata um jovem Hércules a estrangular uma serpente datado do século I e que terá sido pilhado perto de Pompeia, que estava na posse de um investidor e coleccionador norte-americano.

“É uma grande vitória contra o tráfico ilícito”, disse segunda-feira o ministro italiano Gennaro Sangiuliano numa conferência de imprensa, citado pelo diário La Repubblica. Em causa estão peças pilhadas em locais arqueológicos italianos, algumas desaparecidas ou reclamadas há décadas. A colaboração entre os Carabinieri per la Tutela del Patrimonio Culturale (TPC), força policial italiana especializada em tráfico ilícito de antiguidades, e a Procuradoria-Geral de Nova Iorque permitiu agora a sua restituição.

Entre as obras recuperadas, todas de “excepcional valor cultural” estão, como destaca o Ministério da Cultura italiano, “um importantíssimo fresco de Pompeia representando ‘Hércules como um menino com uma cobra’ do século I, uma cabeça de mármore de 'Athena', um cílice de terracota e um busto de bronze”, estes dois últimos avaliados em cerca de 3 milhões e 1,5 milhões de euros, respectivamente. A representação de Athena é datada de 200 anos antes de Cristo e o cálice remonta ao século V antes de Cristo e é atribuído ao Pintor de Villa Giulia, um artesão cujo nome se perdeu nos tempos mas que trabalhava em Atenas e cujo estilo está bem documentado pelos historiadores.

Ambos, destaca o diário norte-americano New York Times, estavam no Metropolitan e foram apreendidos em Julho de 2022, juntamente com outras 19 peças agora devolvidas a Itália. “As normas de coleccionismo mudaram de forma significativa nas últimas décadas e as políticas e procedimentos do Met [a abreviatura pela qual é também conhecido o museu nova-iorquino] têm estado em permanente revisão nos últimos 20 anos”, disse na altura o museu em comunicado.

Em particular destaque está o importante fresco, que se crê ter sido saqueado de Herculaneum, povoação afectada pela erupção do Vesúvio no ano de 79, diz o New York Times, mas que o La Repubblica estima que possa também provir de Pompeia ou de algum outro povoado na região.

O Governo italiano tentava revê-lo desde 1997, depois de ter sido identificado como fazendo parte da colecção de Michael H. Steinhardt, um investidor de capitais de risco e coleccionador de arte. Estava no seu apartamento, relata o New York Times, e em 2021 foram-lhe retiradas 180 antiguidades roubadas, no valor de cerca de 70 milhões, e o coleccionador chegou a acordo com a polícia ficando proibido de adquirir antiguidades para o resto da sua vida — foi a primeira vez que tal decisão foi tomada nos EUA, assinala a publicação especializada Art Tribune. Foram precisos apenas alguns meses, depois de décadas de tentativas, para reaver o fresco assim que a Procuradoria-Geral de Nova Iorque entrou em cena.

“O que apresentamos hoje é fruto de uma actividade de colaboração internacional, mas ainda temos muito a fazer nessa frente”, sublinhou o ministro Gennaro Sangiuliano, citado pela agência de notícias italiana ANSA. A conferência de imprensa serviu para mostrar alguns dos artefactos roubados, cuja lista se completa com peças de natureza tão variada quanto raros bronzes ou ânforas decoradas. A sua origem são escavações ilegais e o tráfico de antiguidades e o seu destino foram as colecções de museus, galerias e particulares, bem como algumas leiloeiras.

O New York Times e o Art Newspaper detalham também que um busto masculino em bronze, do I século antes de Cristo, foi recuperado da colecção da filantropa Shelby White, que integra o conselho de administração do Metropolitan.

O destino destas 60 obras será agora o novo Museo dell’Arte Salvata, em Roma, dedicado precisamente a albergar obras roubadas e recuperadas por Itália e inaugurado em Junho passado, e depois seguirão para museus próximos dos locais de onde se acredita terem sido pilhados.

Na mesma conferência de imprensa, o comandante dos Carabinieri TPC, o general B. Vincenzo Molinese, revelou que em 2022 foram recuperados 74.748 bens arqueológicos e paleontológicos em Itália e que foram apreendidas 1227 obras falsas nas suas operações de combate ao tráfico ilícito de bens culturais. Em 2022 registaram-se 288 furtos de bens culturais, a maioria dos quais em locais de culto (123), mas também dez em museus, 51 em espaços expositivos, 14 em arquivos e 13 em bibliotecas ou residências e anexos. Sessenta e quatro pessoas foram acusadas de escavações clandestinas, detalha a força de segurança italiana em comunicado.

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