TAP vai fazer “auditoria externa” sobre “pagamentos a trabalhadores e administradores”

Empresa pública tem várias averiguações em curso, por parte da Inspecção-Geral das Finanças, CMVM e Procuradoria-Geral da República. Tribunal de Contas também vai fazer auditoria.

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A presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, foi ontem ouvida no Parlamento LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

A TAP, de acordo com fonte oficial da empresa, “decidiu fazer uma auditoria externa independente aos pagamentos a trabalhadores e administradores”. A empresa não adiantou o nome da auditora, numa resposta ao PÚBLICO sobre a questão das indemnizações, nomeadamente sobre o valor que terá sido pago a Teresa Lopes, ex-administradora da transportadora. De acordo com a TVI/CNN Portugal, esta gestora, que foi administradora financeira da TAP, “terá saído com uma indemnização superior a um milhão de euros, em 2020”, valor que a companhia não confirmou nem desmentiu.

De acordo com os dados profissionais disponibilizados pela própria gestora na rede de contactos de negócios Linkedin, Teresa Lopes esteve 34 anos e dois meses na TAP. Foi directora financeira entre Julho de 1999 e Novembro de 2014, quando passou a administradora financeira, cargo em que ficou até Novembro de 2015. Depois, já com os privados no capital TAP, aos quais coube a gestão, passou a vice president finance, tendo como data de saída Março de 2020, mês em que a covid-19 foi declarada pandemia.

De acordo com uma notícia de Dezembro de 2014 do Dinheiro Vivo, assumiu nessa data o cargo de administradora financeira (era até então directora-geral de Finanças), substituindo Luís Rodrigues. Na altura, a presidência executiva era assumida por Fernando Pinto.

Uma outra notícia do Dinheiro Vivo de Novembro de 2015 dizia, citando um comunicado interno, que a gestora tinha sido nomeada “vice-presidente financeira (V.P. Financeiro), com responsabilidades de gestão das áreas de finanças da TAP, SGPS e da TAP, SA, com reporte directo ao CFO, dr. David Pedrosa”, filho de Humberto Pedrosa.

“A indicação para vice-presidente financeira contraria a indicação dada ao Dinheiro Vivo, por fontes que preferiram guardar anonimato, de que Teresa Lopes estaria de saída da companhia aérea juntamente com outros chefes médios e intermédios que até aqui operavam no grupo”, escreveu também o site. De acordo com a TVI/CNN Portugal, na última fase na TAP a gestora já estaria como consultora.

Outra questão enviada pelo PÚBLICO à TAP prendia-se com o valor exacto de indemnização pago ao anterior presidente executivo, Antonoaldo Neves, que substituiu Fernando Pinto e acabou por sair poucos meses antes do final do mandato, em Setembro de 2020, quando o Estado se preparava para reforçar no capital e mandar na transportadora aérea.

Na audição parlamentar que se realizou esta quarta-feira, a propósito da indemnização paga pela TAP à ex-administradora Alexandra Reis, a presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, falou sobre outras saídas da administração. Questionada pelos deputados sobre se tinha havido mais casos de pagamentos de indemnizações, a responsável disse apenas ter conhecimento de um, anterior à sua entrada na TAP, referente ao seu antecessor, “quando a empresa era privada”. A gestora, embora sem mencionar o nome, estava a referir-se a Antonoaldo Neves, presidente executivo próximo do accionista privado David Neeleman e que substituiu Fernando Pinto em Janeiro de 2018.

O gestor brasileiro acabou por sair da TAP em Setembro de 2020, alguns meses antes do final do mandato, já com o Governo a preparar-se para intervir na administração e no capital da companhia. Segundo Ourmières-Widener, a indemnização foi paga relativamente a “remunerações vincendas”, sem especificar valores, apesar de ter sido solicitada para dar esse número.

Na intervenção que fez quando foi chamado pelo PSD, também de forma potestativa, para falar do caso Alexandra Reis, o ministro das Finanças, Fernando Medina, afirmou que tinha dado indicação para “se proceder a um levantamento” de “processos passados” e do “tipo de mecanismos” utilizados em empresas do Estado que tenham semelhanças com a saída de Alexandra Reis da administração da TAP.

Na altura, no dia 6, não ficou claro se o ministro se referia a uma análise mais alargada em termos temporais na própria TAP, que conheceu várias renúncias desde o movimento de reforço accionista do Estado, em 2020, ou a outras empresas públicas, excluindo uma análise mais profunda na TAP. Também não ficou claro a que organismo pediu esse levantamento. O PÚBLICO enviou logo nesse dia perguntas ao Ministério das Finanças, às quais ainda não recebeu respostas.

Neste momento, a TAP é alvo de várias averiguações em curso, por parte da Inspecção-Geral das Finanças, da CMVM e da Procuradoria-Geral da República. O Tribunal de Contas também já anunciou que vai fazer uma auditoria.

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